Título: Alemanha pode ter aliança inesperada
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Fonte: Jornal do Brasil, 15/09/2005, Internacional, p. A12
Apesar de uma pesquisa divulgada ontem ter apontado surpreendente índice de 30% de eleitores ainda indecisos e de algumas outras apontarem empate técnico, a candidata conservadora Angela Merkel desponta como a provável vitoriosa no domingo. Se for o caso, analistas alemães já contam com uma aliança improvável, só registrada há 36 anos no país: como não deverá ter maioria no parlamento, Merkel tenderá a se aproximar do partido de seu adversário, o atual premier Gerhard Schröder. Angela Merkel é apoiada pela aliança feita entre a União Democrata Cristã (CDU), a União Social Cristão (CSU) e o Partido Liberal Democrata (FDP), que, se vencer, só conseguiria 48,7% do parlamento. A que apóia Schröder ¿ formada pelo Partido Social- Democrata (SPD) e Verdes ¿ ficaria com 4,1%. Assim, para analistas, como Merkel ficaria sem apoio no parlamento justamente por sua proximidade com o FDP, a tendência da candidata da oposição seria a de ir buscar apoio do SPD de Schröder. Uma aliança fadada ao fracasso, segundo especialistas.
¿ Essa coalizão existe como cenário viável, mas sem a presença do chanceler (Gerhard Schröder) ¿ confirma ao JB o cientista político alemão Stephan Hollensteiner. ¿ Por outro lado, é improvável que seja constituída uma aliança com a nova esquerda em função de os líderes serem polêmicos demais.
Segundo argumentam especialistas, o fato de os dois grupos terem posições tão radicalmente opostas iria prejudicar o andamento de reformas que o país espera. E tem pressa: as taxas de desemprego estão próximas aos índices do pós-guerra e a expectativa de crescimento é de apenas 1% por ano
¿ Uma grande coalizão seria encarada negativamente pelo mercado. Seria pouco provável eles conseguirem fazer reformas porque os partidos têm posições que se neutralizariam ¿ disse o economista Joerg Kraemer. ¿ Significaria mais perda de tempo. E nós já perdemos muito tempo.
Sobre as reformas que seriam necessárias para o país crescer, Stephan Hollensteiner afirma que todos as desejam, mas por razões diferentes. Ao mesmo tempo, o eleitor alemão também teme as perdas que poderá sofrer com elas. Mesmo assim, acredita que há um ambiente propício para que as mudanças sejam implementadas.
A se confirmar a previsão dos especialistas, o atual premier não faria parte do governo de Angela Merkel. A opção seria convocar o ex-correligionário de Schröder Peer Steinbrueck para ser o vice de Angela.
A pesquisa divulgada pelo instituto Allensbach diz que mais de 30% dos eleitores entrevistados entre 4 e 12 de setembro estavam indecisos e que 44% não estavam ¿realmente convencidos¿ a votar em qualquer um dos partidos alemães.