Título: Carga para venda da VarigLog
Autor: Rafael Rosas e Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 15/09/2005, Economia & Negócios, p. A20

A venda da VarigLog para o fundo americano Matlin Patterson por US$ 103 milhões é considerada cada vez mais fundamental para permitir as operações da Varig até o fim do ano. De acordo com o presidente do Conselho de Administração da empresa aérea, David Zylbersztajn, a expectativa é de que a aprovação da negociação saia no máximo até 48 horas após a formação do Comitê de Credores, no dia 24 de setembro.

- A operação (de venda) é absolutamente necessária para que este plano de recuperação funcione - ressaltou Zylbersztajn, que participou ontem de palestra na Câmara Americana de Comércio do Rio de Janeiro.

Zylbersztajn disse que os juízes que auxiliam Alexander Macedo, titular da 8ª Vara Empresarial do Rio, no processo de recuperação da Varig estão cientes da importância da entrada de capital na companhia.

- A Justiça americana deixou claro que ou a Varig paga o que deve em novembro às empresas de leasing ou perde aviões - lembrou o presidente do Conselho.

Segundo o advogado Daltro Borges Filho, do escritório Sergio Bermudes, a entrada dos recursos do fundo americano garantiria a necessidade de fluxo de caixa da Varig até dezembro. Ele rebateu as acusações de que a venda da subsidiária seria prejudicial à empresa-mãe.

- A VarigLog vai ter que manter o aluguel dos porões dos aviões da Varig - garantiu.

- Já a recíproca não é verdadeira. A VarigLog sem a Varig fica numa situação delicada - acrescentou Zylbersztajn.

O presidente do Conselho se mostrou otimista em relação ao posicionamento dos credores diante do plano. Mesmo a General Electric, cujo braço financeiro GE Capital Aviation Services bloqueou US$ 15 milhões em recebíveis de vendas de passagens na Europa, foi considerada um credor que ''sentará à mesa'' para discutir a aplicação do plano de reestruturação apresentado na segunda-feira.

Zylbersztajn também expôs um governo dividido diante da recuperação da companhia. De um lado, o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, e representantes do Comando da Aeronáutica e do Departamento de Aviação Civil (DAC) têm colaborado para levantar a empresa. Na outra ponta, que Zylbersztajn chama de ''mais complicada'', estão alas do Ministério da Fazenda.

- O diálogo existe, é feito através do secretário Murilo Portugal. É um diálogo muito aberto, muito franco, não é concluído, mas é uma coisa mais complicada. Eu diria que talvez existam pontos de vista que não convergiram - afirmou.

A Procuradoria Geral da Fazenda foi duramente criticada pelo recurso que solicitou à Justiça do Rio Grande do Sul. Procuradores da Fazenda entraram com agravo no Tribunal Regional Federal da 4ª região para cassar a Certidão Positiva de Débito que favorece a Varig.

Pelo instrumento que está sendo contestado pela Fazenda, a Varig compensa pagamentos mensais de R$ 9 milhões referentes ao programa de refinanciamento de débitos com a Receita Federal e INSS (Paes) com um crédito de R$ 3 bilhões que tem a receber do próprio governo. O dinheiro devido à companhia aérea se refere a impostos retidos na fonte - Imposto de Renda e Contribuição Social sobre Lucro Líquido -, numa espécie de restituição que deveria ser feita pela Receita.

Supostas declarações dos procuradores, que teriam se manifestado contrários às propostas de reestruturação da Varig, também desagradaram.

- Essa opinião é muito prejudicial ao processo de recuperação - disse Zylbersztajn.

Questionado pelo secretário de Turismo do Rio, Sergio Ricardo, sobre a criação de uma base (hub) operacional em São Paulo, Zylbersztajn garantiu que a proposta não significa perda de vôos, transferência de funcionários ou a mudança da sede para a capital paulista.