Título: Jefferson prepara cruzada contra Lula e o PT
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 16/09/2005, País, p. A4

O governo pode ter respirado aliviado com a cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) na noite de quarta-feira. Mas ganhou um inimigo empedernido, que vai rodar o país para fortalecer o seu partido e defender o repúdio ao PT e ao presidente Lula. No primeiro dia após a cassação, Jefferson reafirmou os ataques ao presidente da República, a quem classificou de preguiçoso. Jogou no colo do deputado José Dirceu, do secretário de Assuntos Estratégicos do governo, Luiz Guskiken e do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, a coordenação do ''maior esquema de corrupção já visto no país''. E acrescentou:

- Não farei nunca mais aliança com esses caras. Converso com todo mundo, menos com o bode barbudo. O PT é rato magro, quis comer o boi com chifre e tudo - atacou Jefferson.

A saída do PTB do governo, espera Jefferson, será breve. Ele já colocou a faca no pescoço do ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia. Pressiona para que o ministro deixe a legenda, de maneira democrática, já que não pretende abandonar a Esplanada. O petebista anunciou que abriu conversas com o PMDB de Anthony Garotinho - ''que tem belos assessores, como o Carlos Lessa'' - e até com o vice-presidente da República, José Alencar. Sobre Lula, Jefferson preferiu ser irônico, ressaltando que nunca foram amigos, apenas ''se suportavam''.

- Eu sou crente, quero crer que o presidente não sabia do mensalão. Mas ele tinha ascendência sobre o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que quis jogar o cadáver da corrupção no colo do PTB - criticou.

Jefferson não defende o impeachment de Lula, prefere que ele vá sangrando, devagar, até as eleições de 2006. Aposta que o petista não será reeleito, e acredita que no próximo ano a sociedade dará o xeque-mate no PT. Segundo ele, os petistas ''ocultaram-se atrás do escudo socialista em busca da imunidade para roubar''.

Quanto à cassação, Jefferson reconheceu que entrou no plenário sabendo que perderia o mandato. Por isso, optou por um discurso de despedida. Viu os líderes de oposição e de governo trabalhando abertamente pela sua cassação. Reconhece que não tinha salvação.

- Eu viscerei o parlamento, rompi com a instituição. Só não sabia que seria um placar cabalístico: os 300 picaretas do Lula mais o 13 do PT - ironizou o deputado. Jefferson foi cassado com 313 votos a favor e 156 contra.

Apesar da aparente resignação, os advogados de Jefferson decidiram recorrer ao Supremo Tribunal Federal contra a cassação. Alegaram que Jefferson fez suas denúncias amparado pela imunidade parlamentar e que não teve direito à defesa. O petebista não pensa, contudo, em retornar ao Congresso, mesmo que, em uma hipótese remota, o STF lhe dê ganho de causa e suspenda os efeitos da cassação.

- Eu não quero recuperar meu mandato. O que desejo é recuperar meus direitos políticos - esclareceu.

Sobre os R$ 4 milhões, principal motivo para sua cassação, Jefferson afirmou que está pedindo a todos os candidatos a prefeito e vereadores destinatários dos recursos para que devolvam o montante, para ser repassado ao PT - ''pelas vias legais'', frisou. O petebista fluminense vai investir na música e na carreira política da filha, que planeja ser candidata a deputada federal no ano que vem. Sobre as demais cassações, Jefferson não mostra ânimo.

- Eu serei o único cassado. O STF começa a protelar, o PSDB e o PT se ajeitam em acordos para não investigar os fundos de pensão em troca do salvamento da pele dos tucanos envolvidos com o Valerioduto - apontou Jefferson.