Título: Gilberto Carvalho: ''Não sou mula''
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Fonte: Jornal do Brasil, 16/09/2005, País, p. A8

O chefe-de-gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, depôs em sessão fechada ontem na CPI dos Bingos do Senado e negou ter conhecimento de corrupção na Prefeitura de Santo André. Carvalho rejeitou o depoimento aberto alegando que estava na CPI ''não apenas como cidadão'', mas como assessor pessoal de Lula. A CPI questionou o chefe-de-gabinete do presidente sobre um suposto esquema de corrupção em 2001 e 2002 na Prefeitura de Santo André (SP). Ele disse não ter informação sobre o caso. O esquema teria levado ao assassinato do então prefeito petista Celso Daniel em janeiro de 2002. Carvalho era o secretário de Governo da prefeitura.

Líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), disse que a versão de Carvalho não convenceu. Ele vai pedir uma acareação entre o chefe-de-gabinete de Lula e João Francisco.

- Evidentemente ficaram dúvidas. Ele era um administrador atento e todo administrador atento sabe o que está acontecendo - disse.

Em depoimento à CPI no início do mês, o oftalmologista João Francisco Daniel, irmão do prefeito assassinado, afirmou ter ouvido de Carvalho como funcionava a corrupção na prefeitura.

Conforme a versão de João Francisco, Carvalho disse a ele por três vezes que pegava propina em Santo André e levava ao então presidente do PT deputado José Dirceu (PT-SP), em São Paulo. Em seu Corsa preto, Carvalho teria levado R$ 1,2 milhão. Bruno, outro irmão de Celso Daniel, também confirma a versão.

Aos senadores, Carvalho admitiu que teve cinco encontros com a família de Daniel, incluindo dois com João Francisco, mas disse ter tratado das investigações do assassinato. Segundo relatos de senadores que estiveram na CPI, Carvalho negou que soubesse de algum esquema de corrupção. Também afirmou não ter levado dinheiro a Dirceu.

-Não sou mula - disse o chefe-de-gabinete de Lula. Recebem o apelido de ''mula'' as pessoas contratadas por traficantes para transportar drogas em pequenas quantidades.

Quando depôs na CPI, João Francisco afirmou que seu irmão participava do esquema de corrupção para abastecer caixa dois do PT. Celso Daniel, no entanto, teria começado a preparar um dossiê contra a corrupção ao descobrir que o esquema, em vez de irrigar o partido, estava enriquecendo o empresário Sérgio Gomes da Silva (denunciado como o mandante do assassinato), o ex-vereador do PT Klinger Luiz de Oliveira e o empresário do setor de transporte e coleta de lixo Ronan Maria Pinto. A intenção do ex-prefeito de romper o acordo teria levado ao seu seqüestro e assassinato.

- Ele (Carvalho) recebeu um dossiê apócrifo sobre alguns problemas que poderiam estar acontecendo na administração e encaminhou ao prefeito - afirmou o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), líder do governo no Senado, que embora não seja da CPI assistiu ao depoimento.

O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), líder tucano, afirmou que é inaceitável que Carvalho não tenha processado João Francisco por calúnia.

Desde 2002, o irmão de Celso Daniel acusa o chefe-de-gabinete de Lula. Dirceu entrou com uma ação na Justiça por ser acusado de ter recebido dinheiro. Ainda na avaliação de Carvalho, o crime foi comum e não político.

Os delegados da Polícia Civil afirmam que foi crime de extorsão mediante seqüestro seguido de morte. Para o Ministério Público, o assassinato tem ligação com a corrupção.