O Estado de S. Paulo, n. 46718, 14/09/2021. Metrópole, p. A14
Economista cobra que Brasil lidere sustentabilidade
O Brasil precisa ter um papel mais amplo e positivo na negociação global sobre redução do impacto das mudanças climáticas. Essa volta do protagonismo do País na defesa do desenvolvimento sustentável foi defendida ontem pelo economista americano Jeffrey Sachs em painel sobre o mundo no póspandemia, durante a 11.ª Virada Sustentável.
"Precisamos de um sistema global de agricultura que proteja a biodiversidade, armazene carbono e produza comida saudável. Sabemos que o Brasil pode fazer isso, mas não tem feito nos anos recentes, neste governo", destacou Sachs, que é professor e diretor, em Nova York, do Centro Para Desenvolvimento Sustentável da Columbia University e consultor da ONU.
A Virada Sustentável, que tem o Estadão como parceiro, vai até dia 22, com atividades virtuais e presenciais. A programação completa está disponível no site viradasustentavel.org.br.
No evento, Sachs destacou que o Brasil precisa combater a devastação da Amazônia e adotar um sistema de produção de alimentos sustentável. "Precisa estar no topo da agenda (de prioridades)", afirmou. "A situação é urgente, o tempo é curto e a pandemia tem desequilibrado o mundo profundamente."
Sachs lembrou que há eventos importantes nos próximos meses e anos que vão discutir temas relacionados a esse tema e que o Brasil precisa adotar uma postura de defesa do meio ambiente nestas ocasiões, como a COP26 e os encontros do G20. "É um superpoder em biodiversidade e desenvolvimento sustentável", comentou.
Dentre os compromissos, destacou o cumprimento do Acordo de Paris e medidas para garantir que o aquecimento global não aumente além de 1,5º C até 2030 – como recomenda o Painel Intergovernamental sobre o Clima da ONU, IPCC. O Brasil, acrescentou, "está no centro desta discussão, porque tem uma das maiores biodiversidade do planeta, maravilhosa, produtiva e sob ameaça."
Entre as medidas necessárias para obter segurança climática, o economista cita: a não dependência de combustíveis fósseis, a adoção ampla da energia solar e eólica, o combate às queimadas e a adoção de formas sustentáveis de cultivo de alimentos. "Precisamos que os países do G20 se comprometam a proteger o mundo da devastação provocada pelo uso insustentável da terra e da devastação da mudança de clima induzida pelo ser humano", completou.
Proteção. Sachs também se disse favorável à ideia de que países desenvolvidos destinem recursos à proteção da Amazônia e outros biomas ameaçados.
"O Brasil está em uma situação muito triste", comentou o economista, que não citou nomes.
Quanto ao papel do setor privado nessa causa, ele destacou que as empresas precisam se fazer quatro perguntas essenciais sobre a sustentabilidade do produto, dos processos de produção e dos fornecedores, além do papel social que detêm. Isto é, não basta que o resultado seja mostrado como sustentável, ele precisa estar dentro de um sistema que também o seja.
"Acredito que todos os negócios, pelo o seu próprio bem, precisam estar alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (da ONU) e o Acordo de Paris. De outra forma, estarão operando na direção contrária à direção que a sociedade está encabeçando globalmente", disse. Esses setores "precisam entender que o desenvolvimento sustentável é uma agenda que vai mexer com os seus mercados, as suas tecnologias e ainda as suas licenças para operar."
Por isso, o economista destacou o "papel cidadão" das empresas. Isto é, uma atuação que não esteja ligada a fraudes, evasão fiscal ou a algum lobby de impacto social negativo. "Nós temos que limpar os sistemas. De outra forma, nunca vamos conseguir um desenvolvimento sustentável."
Preocupação
"Precisamos de um sistema de agricultura que proteja a biodiversidade e armazene carbono. O Brasil pode fazer isso, mas não tem feito."
Jeffrey Sachs
Professor da Columbia University