Título: Vale quer a 'Carajás do níquel'
Autor: Daniele Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 16/09/2005, Economia & Negócios, p. A23
A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) confirmou ontem o interesse de intensificar sua atuação no mercado de níquel. Em comunicado à Bolsa de Valores de São Paulo, a empresa anunciou que pretende fazer oferta para aquisição de todas as ações ordinárias em circulação da Canico, empresa canadense que explora o Projeto Onça Puma, no Pará. Trata-se da exploração de uma mina localizada no Sul do estado, que constitui hoje a maior reserva ainda não explorada do metal no mundo, com reservas estimadas em 168,9 milhões de toneladas.
A tarefa da Vale, que atribui a conclusão da operação à adesão de pelo menos 51% das ações ordinárias da Canico, não será simples. Atualmente, cerca de 64% dos papéis estão pulverizados no mercado, outros 14% nas mãos da Inco (grupo canadense), 12% em poder do empresário Eike Batista e outros 10% com os controladores.
- Eu não tenho interesse em vender minha participação, pois entrei no projeto para acompanhá-lo até o fim. Acho o interesse da Vale muito bom para a Canico, que ganhará com a experiência da empresa. Além disso, o controle passará para as mãos de uma companhia brasileira - diz Batista, que chama o projeto Onça Puma de ''Carajás do níquel''.
O diretor-presidente da Canico, Júlio Carvalho, explica que a canadense concedeu à CVRD autorização para prosseguimento na oferta, de acordo com contrato de confidencialidade assinado entre as partes. Ele lembra que, em dois anos, a Canico viu seu valor de mercado crescer fortemente.
- A Canico era uma empresa júnior, que focou sua única atividade na prospecção da mina de Onça Puma. O potencial da mina fez o valor de mercado da empresa saltar para quase 800 milhões de dólares canadenses - conta o executivo.
O projeto para a exploração da mina e duas linhas de processamento do níquel está orçado em 762 milhões de dólares canadenses. A primeira linha de produção de ferro-níquel está prevista para entrar em operação em 2008 e, a segunda, em 2012. Cada uma delas terá capacidade anual para processar 30 mil toneladas de ferro-níquel.
Na avaliação de Carvalho, o mercado mundial de níquel está muito aquecido, puxado principalmente pelo consumo chinês. O metal é um dos principais elementos para a fabricação do aço inoxidável.
- Dentro deste cenário, a Onça Puma se destaca, pois não existe nenhum outro grande projeto de níquel em andamento no mundo - diz ele.
A Onça Puma tem reservas estimadas em 168,9 milhões de toneladas. Com as duas linhas de produção previstas, a mina teria tempo de vida de 35 a 40 anos.
Recentemente, o Conselho Administrativo da Vale aprovou o investimento no desenvolvimento do projeto Vermelho, em Carajás, que tem capacidade de produção estimada de 46 mil toneladas por ano de níquel metálico e 2,8 mil toneladas anuais de cobalto metálico, pelos próximos 40 anos.
O investimento estimado é de até US$ 1,2 bilhão, com entrada em operação no quarto trimestre de 2008. Com a mina de Vermelho, a Vale espera contabilizar receita de US$ 360 milhões nos 12 primeiros meses de operação, só com a exploração do níquel. Também deverão ser obtidos US$ 36 milhões com a extração de cobalto.