O Globo, n. 32737, 25/03/2023. Economia, p. 12

Dilma é eleita presidente do banco do Brics

Renan Monteiro


O New Development Bank (NDB), banco do Brics, confirmou ontem que seu conselho de diretores elegeu a ex-presidente Dilma Rousseff para liderar a instituição. Dilma foi a única candidata ao posto, indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O mandato está previsto para durar até julho de 2025. Dilma deve receber um salário de pelo menos R$ 290 mil no novo cargo. Segundo o último balanço anual divulgado pelo NDB, o total pago em salários e benefícios aos seis postos de chefia do banco — formados pela presidência e cinco vice-presidências — é de US$ 4 milhões por ano. A sede do banco fica em Pequim, na China.

Bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o Brics tem no seu banco o principal instrumento de promoção de investimentos, para financiar obras e projetos em países parceiros, com foco em duas grandes áreas: infraestrutura e sustentabilidade. Além dos integrantes do Brics, o banco tem outros emergentes entre seus membros: Bangladesh, Egito, Emirados Árabes Unidos e Uruguai. Carla Beni, economista e professora de MBAs da FGV, diz que a confirmação de Dilma como nova chefe do NDB vem acompanhada da difícil tarefa de pôr em prática a agenda verde na carteira de projetos. Dilma vai precisar alinhar com a China e a Rússia um foco maior no investimento sustentável e mostrar resultados. Na 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP-27), no Egito, o NDB assumiu a responsabilidade de “aumentar o financiamento” a projetos ambientalmente sustentáveis.

— Um dos grandes desafios é executar a pauta que foi proposta na COP do Egito. Foi feito todo um planejamento, mas essa vertente verde e sustentável é mais difícil de execução. Outro ponto é o histórico [de Dilma], com grandes críticas por não estar junto nas questões ambientais —cita Beni. O fator “Rússia” será também um dilema. Carla Beni cita que as sanções do Ocidente após a guerra na Ucrânia estão impedindo que o NBK consiga captar recursos, com a emissão de títulos no mercado financeiro europeu e dos EUA. Dilma substitui o então presidente Marcos Troyjo — que atuava no NDB desde julho de 2020 e foi indicado pelo expresidente Jair Bolsonaro. Desde sua criação até o fim do ano passado, o banco do Brics aprovou cerca de U$ 32,8 bilhões destinados a 96 projetos.

A instituição entrou em operação em julho de 2015. Do início de 2016 até o fim de 2022, o Brasil teve US$ 6 bilhões em projetos aprovados, segundo o documento. Em 2020, o país atingiu o pico de financiamentos, com US$ 3,4 bilhões aprovados. No ano passado, porém, foram apenas US$ 804 milhões.

No Brasil, dos 26 projetos propostos, quatro aguardam aprovação. Em junho de 2021, foi aprovado ao BNDES empréstimo de US$ 500 milhões para financiamento de projetos em energia renovável ou mobilidade urbana.

O país aguarda, por outro lado, a liberação de recursos para projetos como a construção do Porto de São Luís, no valor de US$ 500 milhões. Em nota, o banco do Brics afirma que, quando era presidente, Dilma priorizou o combate à pobreza e deu ênfase à ampliação de programas sociais criados nos governos de Lula entre 2003 e 2010.