O Globo, n. 32737, 25/03/2023. Economia, p. 13

“Reduzir o preço da passagem aérea é muito importante''

Entrevista: Marcelo Freixo - Presidente da Embratur


O Brasil precisa de redução no preço das tarifas aéreas e mais voos para avançar no turismo. É urgente ainda o governo chegar a uma solução para o aeroporto do Galeão, no Rio, afirma Marcelo Freixo, que assumiu este ano a presidência da Embratur. Entre os desafios que encara está garantir recursos para manter a agência e investir em promoção do Brasil no exterior. “Na recuperação do turismo internacional no pós-pandemia, a gente está atrás de outros países na América Latina e do mundo”, destaca, citando a importância de promover o destino.

Como encontrou a Embratur?

Enfrentamos uma situação de ausência de promoção, montamos equipe, botamos para funcionar. Tem um desafio na ordem do dia que é estruturar a própria Embratur. Precisamos de orçamento. E hoje não tem. Tem um contrato com o Sebrae, com R$ 100 milhões, e mais nada. Para custeio e promoção é evidente que não dá. A promoção é cara. Apresentamos várias propostas para o (ministro da Fazenda, Fernando) Haddad e para o governo. E há uma relação importante de diálogo com o Sistema S. Entendemos o turismo como investimento. A FGV mostra em estudo que, para cada R$ 1 investido no Brasil em promoção turística, R$ 20 entram na economia local. Turismo desenvolve, gera emprego e renda.

E a mudança de marca?

Retomamos a marca Brasil, o que é importante porque significa romper com o Brazil com “z” dos últimos anos. É fundamental para começar a conversar com o mundo. E planejamos recuperar o Projeto Aquarela (de 2005, com um conjunto de metas e estratégias de longo prazo para o turismo) num novo planejamento. Isso teve um efeito grande na Europa e nos operadores de turismo. Estamos dialogando com todo o mercado.

Falta promoção?

Na recuperação do turismo internacional no pós-pandemia, a gente está atrás de outros países na América Latina. O Brasil recuperou 55% do que era antes. A América Latina recuperou 66% e o mundo, 63%. A gente concorre com Argentina, Colômbia, Peru e outros. O que faz esses países recuperarem numa velocidade maior? Uma coisa chamada promoção. Não tem destinos melhores que os nossos. A promoção é uma questão técnica, profissional e de recursos.

E faltam dados sobre visitante.

Herdei uma ausência completa de inteligência em termos de informação, de números. Não tem nenhum banco de dados herdado da gestão anterior. Temos um investimento grande hoje em uma gerência de inteligência de dados. Vai trabalhar com big data e inteligência de dados para que a gente saiba onde quer chegar, segmentando informação.

Acabamos de fazer uma reunião com o Decolar.com. Eles têm algo que nos interessa muito e vão colaborar: informação (sobre visitantes), por idade, gênero, interesse, escolaridade, destino. Precisamos dessa rede de informações para ter o diagnóstico e saber onde queremos chegar. Também estamos fazendo um convênio entre os governos do Brasil e de Portugal, via Embratur, para uma colaboração em dados. Haverá outros.

E o Plano Aquarela?

Sai este ano. Precisamos resolver a sustentabilidade da Embratur e gerar esse diagnóstico dos números para fazer esse novo plano e implementar para os próximos três anos.

O projeto de bilhete aéreo a R$ 200 para servidores e estudantes ajuda?

Decisões de governo a gente acompanha. Mas a redução do preço da passagem é muito importante para o mercado de turismo. O governo tem de sentar com as companhias aéreas. A Embratur não pode decidir redução de preço de passagem. Discutimos destinos em que é preciso ampliar oferta de voo. Mostramos que tem demanda. Quanto mais voo tiver, para nós é melhor.

E o impasse sobre o Galeão?

O debate do Galeão não é só do Rio, porque o Rio é a principal porta de entrada do Brasil. Não ter um aeroporto internacional hoje no Rio funcionando a pleno vapor é ruim para o turismo brasileiro. Esse problema do Galeão precisa ser resolvido. Fizemos reunião com a RIOgaleão, a prefeitura do Rio e com representante do governo do Estado do Rio. E entendemos que não pode haver essa concorrência entre Santos Dumont e Galeão. Não tem voo internacional para o Santos Dumont. Então, precisa ter malha aérea no Galeão que permita fazer conexões. Ao potencializar o Galeão, quem ganha é o Brasil.

A volta da exigência de visto de visitantes de EUA, Canadá, Austrália e Japão atrapalha?

É uma decisão de governo. Nos cabe respeitar, cumprir e continuar trabalhando. O que nos cabe é desenvolver todos os projetos que estamos fazendo diante dessa realidade

Como o Embratur Lab?

Vamos fazer um projeto-piloto do laboratório de inovação aplicado ao turismo no Rio. Não temos essa experiência no Brasil da inovação, de startups pensando o turismo. O foco é buscar na tecnologia inovação para melhorar atendimento, qualificação e a vida do turista aqui e, assim, trazer mais gente. Vamos estar na primeira edição do Web Summit, em maio, no Rio.

A Embratur vai ampliar o combate ao turismo sexual?

Não queremos, não aceitamos nenhum turismo com conotação sexual. O governo brasileiro agiu rápido (no caso da denúncia de grupo de coaches que promovia turismo sexual em São Paulo). A mudança da marca Brasil é muito importante nesse sentido. Porque Brazil com “z”, “Visite e nos ame” (slogan da Embratur no último governo) estava sendo entendido por vários países como “Opa! É lá que se faz turismo sexual”. O recado que o governo passado deu foi de estímulo ao turismo de exploração sexual. Isso mudou.

Há planos de investir em qualificação profissional?

Tive uma reunião muito boa com o Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento Social, e acho que o turismo tem de ser entendido de forma transversal, estar dentro de todas as ações governamentais porque é economia, é social, segurança. Ele tem o Cadastro Único (base de dados sobre famílias de baixa renda) e o investimento em formação. Vamos lançar um projeto em breve pegando os principais destinos turísticos internacionais no país e verificando qual a principal demanda de mão de obra em cada um. E o Wellington vai entrar com uma capacitação específica para o destino. A ideia é trabalhar isso junto com a Apex, com Sistema S. Vamos ter a COP30 (Conferência do Clima) em Belém (em 2025). É uma prioridade de todos nós, vamos recebermos os líderes mundiais lá. Veremos qual é a capacitação que precisamos fazer para Belém. E o que vamos deixar depois da COP30, envolvendo geração de emprego e renda.

O senhor cogita concorrer à prefeitura do Rio nas próximas eleições?

Não cogito. Cogito ficar e consolidar esse trabalho na Embratur. Tem de dar continuidade. Venho de muitas eleições, tem ter entrega.