Título: Morcegos e estrelas
Autor: José Sarney*
Fonte: Jornal do Brasil, 16/09/2005, Outras Opiniões, p. A11

Nestes tempos de céu nublado, é um interlúdio que descansa a alma olhar as estrelas, vê-las na imensidão de não poder contá-las. Em Brasília, em tempos de céu de outono, as nuvens desaparecem e nas noites de lua nova há um céu cintilante, de luzes que se acendem e apagam, em que a vista não consegue fixar-se, pois tudo é mistério: escuridão e claridade numa contradição de clarões.

Do sonho ao feijão, na linha inversa de Orígenes Lessa, nossos céus estão destruídos pela explicação em que teimam os físicos de revelarem tudo. A cada dia destroem um pouco desse fascínio. Começou como impacto visual, quando a televisão mostrou aquele fantasma vestido de homem, Neil Armstrong, descendo na lua. Como era misterioso o céu da minha infância em Pinheiro, as interrogações que cercavam as estrelas e a lua, os abismos celestes, aquele vazio que era o nada, o nada que era tudo e tudo que era Deus.

''Todos os homens matam aquilo que amam'', lamentava Oscar Wilde, acrescentando: ''o covarde com um beijo e o valente com a espada!'' Esses físicos não fazem outra coisa. Quando não têm telescópio para comprovar o que pensam, começam a fazer contas, números, equações matemáticas e descobrem planetas, cometas, constelações e trazem imagens de nebulosas e explosões que estão navegando há treze bilhões de anos até chegar à Terra. Nossas cabeças não foram feitas para isso. Oliveira Viana, o grande pensador fluminense, infelizmente esquecido, dizia que a melhor coisa da realidade é a ilusão.

Já não estou suportando tantas pesquisas sobre o cosmo nem depoimentos em CPIs. São mistérios demais. Abro os jornais e lá está que os belgas descobriram um ''buraco negro'' sem-teto. Buraco negro é uma das vedetes dos astrônomos. É buraco negro para cá e buraco negro para lá. Até os astrônomos do Vaticano aceitaram a teoria dos tais. E agora, descobriram um sem-teto, sem matéria, exatamente como os que existem aqui na Terra e invadem prédios abandonados. E então se sabe que no céu, como na Terra, existem os sem-teto, sem-terra, sem-gás e sem e com mensalão. Tudo é ''dédalo'', como diria Jânio Quadros.

Na mesma direção, os jornais dão conta da descoberta de que uma certa espécie de morcego europeu, o Rhinolophus ferrumequinum - que nome esquisito - é um tarado, perito em fazer sexo com a sogra. Abandona os filhotes, para voltar na época de acasalamento, perseguindo a sogra para fazer amor. Esse estudo é sério, está na revista Nature, a mais afamada do mundo científico, foi feito em Gloucestershire e durou dois anos, de 2001 a 2002. Não se sabe para quê.

Nossos morcegos têm - como os homens - raiva de sogra, colocam nos caminhões do Nordeste que ''feliz era Adão, que não teve sogra''.

Enquanto isso, em Brasília, as estrelas caem e as nebulosas aumentam. Nesse oceano de mundos, estrelas e sogras, surge a maranhense Diana, beleza morena que desbanca Fernanda Karina e Maria Cristina, tornando-se a nova musa das CPIs e ainda tem nome de deusa ''a caçadora''. Acteon foi espiá-la no banho e, como punição, foi atacado e morto por seus próprios cães.

*O senador José Sarney (PMDB-AP) escreve às sextas-feiras no JB