Título: O drama das crianças migrantes
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Fonte: Jornal do Brasil, 16/09/2005, Internacional, p. A12
O número de crianças cruzando ilegalmente a fronteira do México para os Estados Unidos aumentou dramaticamente e o que preocupa mais é que a maioria dos menores viaja sem os pais ou outro parente. Segundo alerta um relatório da Unicef, os pequenos imigrantes, com idades entre cinco e 15 anos, enfrentam discriminação, maus-tratos, trabalho forçado e exploração sexual.
O estudo foi conduzido em conjunto pela agência da ONU e o Sistema Nacional para o Desenvolvimento Integral da Família (DIF), um órgão federal mexicano. Foram pesquisadas 11 cidades da fronteira com o Rio Grande: Tijuana, Mexicali, Ojinaga, Ciudad Juárez, Ciudad Acuña, Piedras Negras, Nogales, Agua Prieta, Nuevo Laredo, Reynosa e Matamoros.
Segundo Yoriko Yasukawa, pesquisadora do Unicef, este é um crescente problema. Citando números do Instituto de Migração do México, a especialista contou que em 2004, das 39.690 crianças repatriadas, 10.920 tinham chegado nos EUA desacompanhadas. Em 2005, só nos seis primeiros meses, foram 26.330 menores enviados de volta ao México. Destes, 14 mil estavam sem os pais.
- Na maior parte dos casos, os pais viajam para os EUA primeiro. Uma vez que tiverem encontrado emprego, mandam buscar seus filhos - diz Yasukawa.
O preço para atravessar uma criança pela fronteira usando um contrabandista ou ''pollero'' é de US$ 2 mil. Milhares de menores nunca conseguem chegar às famílias nos EUA - são descobertos pela imigração americana, levados a refúgios especiais e posteriormente deportados.
Outros têm um destino ainda pior:
''A imigração infantil não-documentada na fronteira Norte propicia a violação sistemática dos direitos humanos. Meninos e meninas e adolescentes enfrentam inúmeros riscos, desde a saída de seus lares de origem, o deslocamento, até a detenção. Eles podem ser envolvidos em diversas formas de delito, como tráfico de drogas ou pessoas, redes de exploração sexual, prostituição, pornografia infantil, além de serem submetidos a formas extremas de exploração no trabalho, em condições insalubres'', alerta o documento.
Para ambos organismos, também é preocupante que o fenômeno migratório ''freie as possibilidades de desenvolvimento dos menores'', o que, por fim, os impede de sair das condições que deram origem à mobilização: a pobreza, a falta de oportunidades e o desemprego.
O Unicef e o DIF denunciam ainda a falta de acordos bilaterais para a repatriação segura e ordenada de cidadãos mexicanos, em especial, de crianças, assim como o a reintegração a seus núcleos familiares sem o apoio de instituições de assistência social que possam garantir os direitos da criança e do adolescente.
Detidos nos EUA, os menores ilegais costumam ficar em celas com adultos, também presos por falta de documentos e visto, até serem deportados. Por sua vez, os adolescentes encarcerados por tráfico de drogas permanecem por mais tempo nas penitenciárias americanas.