Título: Briga voto a voto até último minuto
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Fonte: Jornal do Brasil, 17/09/2005, Internacional, p. A8
A indefinição do eleitorado alemão levou os dois principais candidatos a estender suas campanhas pelo fim de semana. A decisão é uma quebra na tradição do país, que, embora permita que os políticos tentem conseguir votos durante a votação, sempre encerrou a batalha na sexta-feira à noite. Esse ano, a conservadora Angela Merkel e o atual chanceler Gerhard Schröder, que tenta o terceiro mandato, vão ficar na rua até as 17h59, um minuto antes do fechamento das urnas. O motivo: as últimas pesquisas divulgadas ontem, embora apontassem a vitória de Merkel, detectaram uma diferença de 10 pontos percentuais entre os dois, num cenário em que há cerca de 15 milhões de eleitores que declararam ainda estar indecisos.
Segundo a pesquisa da agência Forsa, Angela Merkel, que é apoiada pela aliança entre a União Democrata Cristã (CDU, na sigla em alemão), a União Social Cristã (CSU) e o Partido Liberal Democrata (FDP), tem 51% das intenções de voto. Schröder, da união Partido Social Democrata (SPD) e dos Verdes, tem 41%. Para ir atrás de cada voto que possa fazer a diferença, o chanceler pretende ir hoje a Frankfurt, o que não estava previsto inicialmente. Merkel deverá ir a Bonn.
Ontem, os dois candidatos radicalizaram ainda mais seus discursos, na tentativa de deixar claro o quanto são diferentes um do outro. E fizeram seus últimos comícios ao mesmo tempo no Centro de Berlim.
Schröder foi à badalada Praça Gendarmenmarkt, onde uma multidão de cerca de 15 mil pessoas o aclamou gritando ''Gerhard, Gerhard'', com cartazes com sua foto.
- Lutamos pela manutenção de um Estado social e justo, que só sobreviverá se formos capazes de reformá-lo - disse, ao lado do escritor Günter Grass, Prêmio Nobel de Literatura de 1999, entusiasta da campanha oficial, que falou estar ali representando ''centenas de artistas''.
Para Schröder, o eleitor alemão tem que tomar três decisões amanhã:
- A primeira decisão corresponde à renovação interna, para continuarmos sendo competitivos sem destruir a coesão social e os direitos dos trabalhadores; a segunda é saber se estamos em condições de ser economicamente fortes sem perder a sensibilidade ecológica; e a terceira é descobrir se estamos em condições de posicionar a Alemanha como uma potência que contribui para resolver pacificamente os conflitos do mundo - disse o candidato, que não apóia a guerra no Iraque, ao contrário de sua adversária.
A um quilômetro de Schröder, Angela Merkel também foi recebida por uma multidão com cartazes com sua foto na mão. Aos gritos de ''Angie, Angie'', apelido de Angela que virou a marca que seus assessores reforçaram com a música homônima dos Rolling Stones. Também gerou polêmica porque a banda de rock britânica nunca autorizou a utilização para fins políticos. ''Angie, Angie, quando essas nuvens vão desaparecer? Angie, Angie, aonde vamos parar? Sem amor na alma, sem dinheiro no bolso. Você não pode dizer que estamos satisfeitos. Mas Angie, Angie, você não pode dizer que nunca tentamos'', diz a música. Mick Jagger e Keith Richards, os autores, chegaram a tentar, mas não conseguiram impedir que ''Angie'' ficasse atrelada à mulher que já é comparada à ex-dama-de-ferro britânica, Margaret Thatcher, por causa de sua postura linha-dura.
No comício que fez em uma enorme tenda, Merkel também falou das reformas que acha necessárias para a Alemanha, e atacou Schröder diretamente.
- Ele anunciou que iria criar 2 milhões de empregos, mas o que temos agora? Um milhão e meio de pessoas a menos na força de trabalho do país - disse, lembrando de um dos principais problemas da Alemanha hoje. O país têm índices de desemprego que são comparáveis aos do período do pós-guerra.
Ex-companheiro de partido de Schröder e atual inimigo político, Oskar Lafontaine também é candidato, pelo Partido da Esquerda (LP). No dia em que comemorou 61 anos, fez seu último comício pedindo ''um voto de aniversário'' e tentando se apresentar como opção a seus dois principais adversários, que considera iguais.
- A pergunta de domingo não é quem nos diminuirá o salário, Merkel ou Schröder, quem nos diminuirá a pensão, Merkel ou Schröder. A pergunta é quem é a alternativa e só há uma resposta: a esquerda - disse.