Correio Braziliense, n. 21562, 30/03/2022. Política, p. 4

Governo dá mais benesses aos militares

Ingrid Soares


Visando manter o apoio dos militares na corrida à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem ampliado o rol de benefícios à categoria. No último dia 18, revogou o decreto assinado pela ex-presidente Dilma Rousseff, de 2016, que já previa a ampliação de bônus e aumentou o recebimento de gratificações de representação aos integrantes da caserna.

A gratificação, agora, passa a ser mensal. Oficiais-generais ganharão 10% em cima do salário básico. Os demais farão jus a 2% sobre o vencimento base se estiverem em cargo de comando, de direção ou chefia; em viagens de instrução ou operacional; ou a serviço de autoridades estrangeiras no país. A medida foi assinada, também, pelo ministro da Defesa, Walter Braga Netto.

Bolsonaro também tem atendido, frequentemente, o pessoal ligado à segurança pública. Além da promessa de reajuste salarial a policiais federais (leia mais na página 7), no último dia 15 ele sancionou o Habite Seguro, programa que permite o uso de recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP) para subsidiar a compra de casa própria para os fardados.

Um interlocutor do governo nega que as ações sejam eleitoreiras. Afirma que são coerentes com a trajetória política de Bolsonaro. “Foi com eles (os militares, os policiais e os bombeiros) que se elegeu. Apenas manteve o que vinha fazendo desde antes de ser eleito. Se lembrar dele como deputado, a maioria das emendas eram voltadas para os militares. É o público que ele tem”, explicou.

Para o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Bolsonaro tem intensificado a participação em eventos dos militares e investido em ações que beneficiam a categoria para manter a fidelidade deles. “Nada mais é do que uma tentativa de manutenção do apoio dessa base. Sempre que pode, faz um aceno. É um grupo que não o abandonou em momento algum, até porque se beneficia da gestão”, lembrou.

O cientista político André Rosa salienta que o presidente vem subindo nas pesquisas de intenção de votos e “é uma estratégia para não deixar que se (os militares) movimentem na direção de Moro. É uma tentativa de garantir esses votos e não dar espaço para o centro crescer no processo eleitoral”.