O Estado de São Paulo, n. 46759, 25/10/2021. Economia p.B3

 

'Bolsonaro não é populista', defende Guedes

 

Política fiscal Auxílio Brasil

Ao lado do presidente, que definiu como 'popular', ministro repele críticas e tenta justificar alteração na âncora fiscal do País

Breno Pires 

Sandra Manfrini

Francine de Lorenzo

 

Em entrevista, ao lado do presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu, ontem, a decisão do governo federal de alterar a regra do teto de gastos, âncora fiscal do País, para viabilizar o pagamento de R$ 400 no Auxílio Brasil até dezembro de 2022. Ele disse que a decisão não transforma o presidente Jair Bolsonaro em um populista. "O presidente não é populista. Ele é popular", afirmou.

Guedes argumentou que Bolsonaro "tem a sensibilidade de saber, olha, chegou a hora que nós temos de atender. Tem brasileiro comendo osso, passando fome. A mídia mesmo ficou falando isso aí três meses, tem brasileiro passando fome, comendo ossos. Como é que um presidente da República vai fazer? Ele fica num difícil equilíbrio".

Segundo o ministro, R$ 400 foi o meio-termo entre o que a equipe econômica propôs, de R$ 300, e o que os políticos defendiam, R$ 600. "A equipe econômica fala assim, vamos dar R$ 300. Aí os políticos: vamos dar 600. Aí ele olha e fala: vamos dar R$ 400. E aí eu, como economista, tenho de avisar ao presidente: presidente, isso aí nós temos de pedir uma licença, porque vamos atingir ao teto. Ah, podemos reformular o teto? A reformulação é tecnicamente correta, para sincronizar as despesas com o teto, hoje eles estão descasados", disse Guedes.

"O presidente precisa enfrentar o problema da miséria que se agudizou durante a pandemia", acrescentou. "E aí ele precisa de R$ 30 bilhões para dar R$ 100 a mais para o Bolsa Família. Vocês todos sabem que tínhamos previsto R$ 300 dentro do teto. Estava previsto, só que o Senado não avançou com a matéria. Não conseguiu avançar com (a reforma) do imposto de renda, que daria a fonte. Se a gente fizer uma reforma administrativa que dê R$ 300 bilhões, não tem problema dar R$ 30 bilhões para os vulneráveis e os frágeis."

Apesar de defender a mudança, Guedes definiu o teto como "uma bandeira nossa de austeridade". Ele disse que "o teto é um símbolo de compromisso para gerações futuras. Mas, se você perguntar para gerações futuras, nós vamos deixar 17 milhões de famílias brasileiras passando fome? Eles vão dizer que não. Eles vão dizer, faça um outro sacrifício aí, por exemplo, a reforma administrativa, porque aí você poupa para gerações futuras R$ 300 bilhões".

Guedes devolveu as críticas a economistas que reprovaram a ruptura do teto e disse que "o presidente tem de tomar uma decisão política muito difícil: ou se respeita o teto, ou deixa 17 milhões de brasileiros na fome. É muito difícil, e eu tenho de calibrar isso".