Título: Esquerda em guerra pelo segundo lugar
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 18/09/2005, País, p. A2

Com o primeiro lugar teoricamente assegurado ao candidato do Campo Majoritário, Ricardo Berzoini, as seis candidaturas de oposição vêm travando verdadeira guerra pelo segundo lugar nas eleições internas do PT. A anunciada união para derrotar o Campo está indo por água abaixo e as farpas começam a surgir de todos os lados.

O pacto da esquerda de apoio mútuo no segundo turno foi colocado em xeque nesta semana. Depois de Valter Pomar conquistar a adesão de ex-eleitores do Campo Majoritário - muitos deles ligados à ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy -, integrantes da base de apoio de Plínio de Arruda Sampaio disseram que podem não aderir à candidatura de Valter caso ele concorra no segundo turno.

Eles acusam Pomar de estar sendo usado pelo Campo Majoritário, que tentaria montar um segundo turno mais moderado, evitando a perda de poder. O próprio Plínio confirma as reservas:

- Temos de esperar o resultado do primeiro turno. Caso Pomar passe, veremos se há antagonismo da candidatura dele com a do Campo ou se isso não passa de um jogo. Porque é muito estranho que na última hora surjam esses apoios - critica Plínio.

Para Valter Pomar, as críticas são infundadas. Ele afirma que nos últimos meses todas as candidaturas de esquerda vinham conseguindo apoios de setores do Campo Majoritário. A diferença, segundo ele, é que no caso de sua candidatura, essas adesões aconteceram mais tarde:

- Todos fizeram esse movimento de aproximação com ex-eleitores do Campo e está certo fazê-lo. Em 2001, o Campo teve 51% dos votos, logo, só ganharemos se uma parcela deles votar em nós. Isso não impede, no entanto, que no segundo turno, quando tivermos de escolher entre o Campo e outra corrente, todos votem na mudança.

Valter Pomar considera natural esse tipo de acusação às vésperas do primeiro turno, já que as candidaturas de esquerda precisam disputar votos entre si. Considerado por muitos o candidato mais moderado da oposição, Pomar atribui as críticas à defesa que seu grupo tem feito do governo do presidente Lula.

- No começo de 2004 começamos um discurso que dialogasse com o Campo: defendemos o PT, defendemos o governo, mas achamos que a melhor forma de apoiá-lo é mudar. Essa postura fez a esquerda nos acusar de linha auxiliar. Mas sempre fomos críticos - explica.

O candidato Raul Pont, que tem recebido apoios importantes, como do senador Cristovam Buarque, considera naturais as críticas.

- Todos nós estamos no mesmo partido, então pode existir o deslocamento de forças. Agora, se aí há uma segunda intenção, eu não sei - suaviza.