Título: Estrela à procura de novo rumo
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 18/09/2005, País, p. A2

A militância petista vai às urnas neste domingo eleger o novo Diretório Nacional, na segunda eleição direta para a presidência do partido. O que poderia ser um momento festivo ¿ afinal, a eleição acontece em pleno governo Luiz Inácio Lula da Silva, tão sonhado por qualquer portador da estrelinha vermelha no peito ¿ ganhou contornos trágicos. Afundado na pior crise moral e ética de sua história, o PT não sabe que destino o aguarda após a disputa de hoje. ¿ Qualquer prognóstico é delicado. A disputa será extremamente tensa. Com certeza, teremos segundo turno ¿ resume o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP).

O escândalo de corrupção fruto das relações promíscuas entre a antiga direção petista e Marcos Valério Fernandes de Souza, devastou a cúpula partidária e arrastou para o buraco um candidato que seria praticamente imbatível: José Genoino (SP). Genoino sentiu o baque após a descoberta de um empréstimo para o PT avalizado por Valério e acabou renunciando ao cargo de presidente quando um assessor do seu irmão, que é deputado estadual no Ceará, foi preso com R$ 200 mil numa valise e mais de US$ 100 mil na cueca. Foi substituído por Tarso Genro, que largou o Ministério da Educação por um cargo que, teoricamente, daria mais visibilidade.

Genro acabou se chocando com fantasmas do passado. Entrou em uma disputa fratricida com o deputado José Dirceu (PT-SP), na base do ¿ou ele ou eu¿. Perdeu e acabou desistindo de disputar a presidência. O posto de candidato do Campo Majoritário foi então ocupado pelo atual secretário-geral, deputado Ricardo Berzoini (SP).

¿ Não há dúvidas de que Berzoini será prejudicado, ele acabou sendo o terceiro nome na preferência para disputar a presidência do partido ¿ reconheceu o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP).

A fragilidade da cúpula partidária vai ter conseqüências diretas no tamanho do chamado Campo Majoritário, que comanda hoje 55% das cadeiras do Diretório Nacional. Foi essa corrente que levou o PT a uma guinada ao centro, ampliando o leque de alianças e permitindo a eleição de Lula em 2002. Foi também o Campo Majoritário, que comanda o partido desde 1995, tendo à frente José Dirceu, que afundou a legenda na crise atual de identidade.

Prova disso é que o próprio Dirceu, depois de vencer a queda-de-braço com Tarso, passou a atuar menos nas disputas internas, dando mais atenção às articulações para salvar o próprio pescoço, ameaçado de degola por ser o suposto mentor do mensalão. Em avaliações recentes, contudo, ele expressou preocupação com a perda da força do seu grupo.

¿ O Campo Majoritário deve ficar com aproximadamente 40% das vagas ¿ admitiu Dirceu a interlocutores.

As mudanças no horizonte petista precisam ser mais amplas do que a simples troca do nome, de acordo com a análise geral. O partido perdeu a paixão da militância, desanimada com os recentes escândalos. O PT conta com 825 mil filiados. Na primeira eleição direta, em 2001, apenas 227 mil resolveram reconduzir Dirceu. Hoje, a expectativa é de que o numero de votantes seja ainda menor.

¿ O quorum mínimo é de 15%, ou seja, 150 mil. Acho que passaremos pouco disso. É bom para mensurarmos o tamanho real do PT ¿ avalia o deputado Chico Alencar (PT-RJ).

Berzoini está praticamente garantido no segundo turno. A dúvida, contudo, é quem será seu adversário. Por conta de disputas regionais, o grupo ligado a Marta Suplicy decidiu apoiar o candidato da articulação de esquerda, Valter Pomar. Raul Pont, da Democracia Socialista, conta com apoio maciço dos petistas da região Sul e de petistas como Paul Singer. Maria do Rosário, do Movimento PT, é da tendência do atual líder do governo, Arlindo Chinaglia (SP). Plínio de Arruda Sampaio é amparado por toda a esquerda petista, além de nomes ilustres, como o senador Eduardo Suplicy (SP). Além destes cinco, ainda disputam, praticamente sem chances, Marcos Sokol e Luiz Gonzaga da Silva, o Gegê.

E que PT vai sair das urnas? A resposta é incerta. A única certeza é justamente a necessidade de mudanças profundas. O PT foi varrido e precisa ser ¿refundado¿, na avaliação de muitos parlamentares. Para Cardozo, é impossível não haver alterações de princípios.

¿ Temos que resgatar os princípios éticos da legenda, com uma renovação política e programática. É imperioso que isso ocorra após o desastre que aconteceu ¿ afirmou.

Chico Alencar segue a mesma linha e torce para uma vitória da esquerda nas eleições deste domingo. Só assim, aposta, o partido conseguiria ter um novo diálogo com o governo, com autonomia e senso crítico. Este senso crítico pode não alterar os rumos do governo que, segundo Chico, já se definiu ao substituir Olívio Dutra por um indicado por Severino Cavalcanti (PP-PE) ¿ Márcio Fortes. Mas pode até ameaçar a estabilidade da candidatura Lula em 2006.

¿ Pelo regimento, é possível haver prévias internas para escolher os candidatos. Lula não é um nome nato, não é um mito. É um petista como qualquer um ¿ ameaçou Chico.