Título: O alto preço da indefinição
Autor: Paulo Celso Pereira e Sergio Duran
Fonte: Jornal do Brasil, 18/09/2005, País, p. A3
Apesar de todas as correntes do PT verem as eleições internas como uma possível solução para o partido, a tendência, no entanto, é que o pleito crie uma situação insustentável para grupos históricos da legenda. A análise é do cientista político Paulo Roberto Figueira Leal, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, e autor dos livros Os debates petistas no final dos anos 90 (Editora Sotese) e O PT e o dilema da representação política (Editora FGV). De acordo com Leal, as eleições são apenas a última fronteira de um dilema sem saída:
- O PT vive hoje um dilema trágico. Não há saída boa. Porque qualquer rumo que for tomado vai custar um preço alto para a legenda. Se ganhar a esquerda, o partido perderá os setores moderados conquistados nos últimos anos. E se a sigla fortalecer o discurso moderado, acabará criando uma situação insustentável com a esquerda - analisa.
A crise do partido, segundo o professor, tem raiz justamente na elogiada multiplicidade de idéias. Ao longo de seus 25 anos de existência, o PT nunca definiu estreitamente teses fundamentais de seu programa. Segundo Leal, esse foi um dos fatores de atração de militantes de diversas correntes.
- Nunca foi explicitado, por exemplo, que socialismo o partido pregava. Quando o PT chega ao governo federal e faz um governo numa linha social-democrata, cria-se um problema: é a hora de definir qual o socialismo estabelecido pela maioria. O fato de ter durante tanto tempo esquerda católica, a social-democrata, os trotskistas e os leninistas, faz com que hoje existam atritos que não são mais administráveis - explica.
Com o amplo favoritismo do candidato do Campo Majoritário, Ricardo Berzoini, e a dificuldade das candidaturas de esquerda emplacarem, a ruptura, segundo Leal, é iminente.
- Não vejo como sair desse paradoxo sem cisões. Os grupos terão de analisar se ficam para disputar o que resta do PT ou se constroem uma outra alternativa fora. Pois há certas bandeiras históricas que o partido não poderá mais defender. (P.C.P.)