O Globo, n. 32685, 01/02/2023. Economia, p. 14

Em 2022, país criou 2 milhões de empregos com carteira

Renan Monteiro


A economia brasileira criou 2,03 milhões postos de trabalho com carteira assinada em 2022, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, divulgados ontem. Isso representa uma queda de 26,6% em relação ao ano de 2021, quando foram gerados 2,77 milhões de vagas formais.

Economistas ouvidos pelo GLOBO avaliam que, neste ano, a criação de postos com carteira assinada deve perder força por causa da taxa básica de juros (Selic) no patamar de 13,75%, o que torna o crédito caro para o investimento das empresas e para o consumo das famílias. Uma possível recuperação no segundo semestre dependeria, segundo eles, de políticas concretas do novo governo.

— A virada para 2023 está considerando fatores macroeconômicos muito negativos. Temos a inflação com dificuldade de ser controlada e, para isso, juros muito altos, o que tende a desacelerar a economia. O mercado de trabalho acaba reagindo nesse mesmo sentido — explica o economista Rodolpho Tobler, do Ibre/FGV.

Serviços puxaram saldo

Embora abaixo do registrado em 2021, todos os cinco setores da economia tiveram saldo positivo no ano passado. Foram 1.176.502 novas vagas em serviços e 350.110 no comércio. A indústria gerou 251.868 novos postos, seguida por construção e agropecuária, com 194.444 e 65.062, respectivamente.

Os dados do Caged mostram ainda que, em dezembro — mês que normalmente tem grande número de dispensas de trabalhadores admitidos temporariamente para as festas de fim de ano —, as demissões superaram as contratações em 431.011 vagas. O salário médio também caiu. O valor de admissão de novos empregados ficou em R$ 1.915,16, menos R$ 17,90 em relação ao pago em novembro (R$ 1.933,06).

Ao longo do ano, foram 22,6 milhões de contratações e 20,6 milhões de demissões. Ao fim de 2022, o Brasil tinha um saldo de 42,7 milhões de pessoas trabalhando com carteira assinada.

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, afirmou que vai buscar uma formalização maior do trabalho em 2023:

— Nós vamos buscar fortalecer a formalização e a qualidade do trabalho, valorizando a negociação coletiva e revisando eventuais normas que estão em vigor. Não estou a fim de acabar com nada, vamos ter que fortalecer o papel das inspeções, das fiscalizações e das delegacias regionais de trabalho.

Precariedades de contratos

Segundo Marinho, há um nível de precariedade nos contratos de trabalhos em função da falta de fiscalização. O ministro disse que um dos objetivos será combater contratações sem registro na carteira:

— Não precisa acabar com o trabalho intermitente, mas nós vamos observar o que é regra e o que é fraude; me parece que há muita fraude no mercado de trabalho. Há muito PJ que não é PJ, há muito MEI que não é MEI.

Os dados do Caged consideram apenas o emprego formal, ou seja, com carteira assinada, e são divulgados mensalmente. A metodologia difere da usada pelo IBGE na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que considera vagas também no mercado informal —sem carteira — e as agrupa por trimestre.

Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter, avalia que, até o momento, não houve medidas concretas do novo governo para contribuir com a geração de empregos formais. Segundo ela, as sinalizações sugerem um “desincentivo” em temas como revisão da reforma trabalhista.

— Essa recuperação viria com uma redução dos juros. O que pode vir de benefício do governo é a apresentação de uma nova âncora fiscal, que vai permitir juros menores e que a geração de empregos volte a crescer —afirma ela.

Outro fator que pode contribuir para um aumento do trabalho formal é a redução do “limbo jurídico” em algumas atividades, segundo o advogado trabalhista Felipe Queiroz, do escritório Pires Queiroz e Martins:

— Existe uma expectativa de que a taxa de desemprego cairá em 2023, em razão das políticas de incentivo e de algumas mudanças legislativas que estão em debate, como, por exemplo, a regulamentação do trabalho dos entregadores de aplicativo, categoria gigante.