Título: Referendo: campanhas estão sem recurso
Autor: Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 18/09/2005, País, p. A6

A dificuldade em angariar recursos, as disputas na Justiça e o improviso tem marcado a preparação das campanhas das duas frentes parlamentares que vão se enfrentar no referendo do desarmamento no dia 23 de outubro. Os recentes escândalos políticos envolvendo a prática de caixa 2 em campanhas eleitorais espantaram os doadores em potencial de ambas as campanhas. Falta dinheiro tanto para a defesa do desarmamento quanto para a frente que apoia a manutenção do comércio de armas. Nada que inviabilize a campanha em horário gratuito, que começa no dia 1º de outubro. A Frente Brasil Sem Armas até poderá contar com um certo luxo na produção de sua campanha. O primeiro filme da empreitada pró-desarmamento, em horário gratuito, foi gravado na semana passada. Estrelando, Fernanda Montenegro. Na direção, Walter Moreira Salles Jr.

Tudo de graça. Uma das grandes vantagens da Frente Brasil Sem Armas sobre a Frente Parlamentar pelo Direito à Legítima Defesa é a adesão maciça de artistas e celebridades, que abriram mão de cachê para encampar a causa. Pelé deve ser o próximo a gravar sua defesa do desarmamento.

- Quem precisa de artista é novela. Nós precisamos de idéias, de um debate democrático e de informar a população - desdenha o presidente da frente a favor do comércio de armas, deputado Alberto Fraga (PFL-DF).

O grupo não conseguiu a adesão de nenhum artista. Sem sua cota de celebridades para defender a manutenção da venda legal de armas de fogo, a frente colocará seus parlamentares no vídeo, e apelará para depoimentos de pessoas que, de alguma forma, tiveram suas vidas salvas por portarem uma arma.

Segundo o deputado, diante da falta de recursos os parlamentares da frente têm feito palestras e debates em todos os estados.

Outra tática, mais agressiva, levou para o Judiciário o confronto entre os dois grupos. A frente que defende o comércio de armas apela para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para tentar minimizar a desigualdade de apoio da classe artística, das ONGs e até de empresas públicas à causa do desarmamento. Conseguiram, dessa forma, afastar a Fiocruz, a companhia aérea Varig, o Instituto Sou da Paz e a ONG Viva Rio, a mais tradicional força de apoio à proibição da venda de armas, da campanha pró-desarmamento.

O jeito, para os funcionários da Viva Rio, foi se licenciar da organização. Conseguiram montar um pool de agências de publicidade que, trabalhando de graça, estão montando a campanha. De Brasília, o coordenador de Publicidade da frente parlamentar, Paulo Alves, comanda a operação.

- A gente tenta fazer milagre com pouco recurso - conta Paulo, ele próprio voluntário. Mesmo reconhecendo a força das adesões voluntárias à campanha pró-desarmamento, ele ainda considera a frente adversária como uma rival de peso.