Título: Lula tenta seduzir governadores
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 18/09/2005, País, p. A7

Embora alardeie despreocupação com a queda de sua popularidade registrada na última pesquisa CNT-Sensus, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva age nos bastidores para tentar turbinar sua avaliação pessoal de olho na reeleição. Durante a semana, tão logo foram divulgados os números apontando uma queda vertiginosa de 10 pontos percentuais nos últimos três meses, o presidente encomendou a assessores um pente-fino nas mais prementes reivindicações dos governos estaduais para serem atendidas ainda esse ano. A ordem é abrir o cofre. O martelo não foi batido pois o estudo ainda não foi concluído. Mas se forem levados em consideração os principais pleitos dos estados, o Planalto terá de desembolsar pelo menos R$ 10 bilhões para ter êxitos na tentativa de fazer um afago nos governadores.

Os ministros do chamado núcleo político do governo crêem que a reversão do quadro passa pela redução das tensões estaduais, numa espécie de efeito ¿pedra no lago¿ segundo o qual os governadores, mais próximos da população, influenciariam o senso geral.

Há uma avaliação no Planalto de que o resultado das recentes pesquisas reflete o ambiente de descontentamento semeado pelos governadores, com dificuldades em ver suas reinvindicações atendidas em função do atual momento de crise. Como consequência, a popularidade de Lula é atingida.

O governo não quer, por exemplo, que o presidente passe mais por constrangimentos como o que vivenciou na sexta-feira quando governador de Alagoas, Ronaldo Lessa, e Lula trocaram puxões de orelhas em público, durante a solenidade de inauguração do novo aeroporto de Maceió. O governador, que saiu recentemente o PSB, aliado de Lula, e foi para o PDT, de oposição, criticou a política econômica e cobrou a renegociação da dívida do Estado.

¿ A dívida é insuportável. Não é justo que o Estado perca 25% de tudo o que arrecada por causa dos juros, de uma política monetária equivocada que até hoje persiste. A maior injustiça é tratar por igual coisas que são desiguais. É uma visão equivocada que fere o princípio federativo ¿ desabafou o governador Lula rebateu no mesmo tom.

¿ Mas, meu querido Lessa, se a dívida é injusta ou não, em algum momento os 27 governadores deste país sentaram com o governo passado e fizeram um acordo da dívida. Eu conheço governador que foi autor, inclusive, do acordo, e que hoje reclama que é preciso renegociar a dívida ¿ rechaçou.

Há duas semana, no Rio Grande do Norte, ouviu um rosário de reclamações da governadora Wilma de Faria (PSB), durante uma solenidade num município do sertão do estado. A governadora recebeu como um soco no estômago a decisão do governo federal e da Petrobras de construir a refinaria, uma reivindicação antiga do estado, em Pernambuco. E deixou clara sua insatisfação durante discurso num palanque improvisado. Não bastasse a crise política, uma reação como a da governadora, na avaliação do Planalto, contribui para arranhar ainda mais a imagem do presidente Lula

¿ Não temos tido a atenção devida. O estado é o segundo maior produtor de petróleo do país, exploramos essa riqueza há 25 anos mas nunca houve uma contrapartida para a população ¿ reclama o secretário de Planejamento do estado, Vagner Araújo.

A contrariedade da governadora do Rio Grande do Norte pode ser aplacada se o governo olhar com carinho para uma lista extensa de obras para as quais espera o aporte financeiro da equipe econômica do governo. A maioria já foi iniciada, como a obra de construção do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante. Mas, para concluí-la, o governo ainda teria de investir cerca de R$ 100 milhões. O mesmo ocorre com o terminal pesqueiro do porto de Natal, orçado em R$ 200 milhões. Wilma de Faria ainda cobra o apoio do governo para construir um ramal ferroviário de 200 km de extensão, a partir da Transnordestina, ligando o município de Mossoró, hoje responsável pela produção de 95% de todo o sal que é consumido no país, a Natal. A obra não sairá por menos de R$ 200 milhões.

No levantamento sobre o qual o Planalto se debruça desde a divulgação da pesquisa CNT-Sensus, há pedidos de todos os partidos, do oposicionista PSDB ao PT, partido do presidente. Hoje considerado um dos principais conselheiros de Lula, o governador do Acre, Jorge Viana, esteve no domingo na Granja do Torto e entregou uma lista de demandas do estado represadas pelo Ministério da Fazenda. Na quarta-feira, foi a vez do seu secretário de Planejamento, Gilberto Siqueira, fazer um périplo pela Esplanada atrás de recursos.