O Estado de S. Paulo, n. 46726, 22/09/2021. Política, p. A10

Operação mira contratos da gestão Barros

Vinícius Valfré
Breno Pires


A Polícia Federal deflagrou ontem a Operação Pés de Barro, para apurar fraudes na aquisição de medicamentos de alto custo pelo Ministério da Saúde entre maio de 2016 e abril de 2018, período em que o atual líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (Progressistas-pr), era ministro, no governo Michel Temer. Barros, porém, não foi alvo.

O caso investiga um rombo de R$ 20 milhões pagos antecipadamente à Global Gestão em Saúde. Dois dos alvos da operação são ex-diretores do Departamento de Logística (Dlog) do ministério, posteriormente no governo Jair Bolsonaro.

Tiago Pontes Queiroz é o atual secretário nacional de Mobilidade e Desenvolvimento Regional e Urbano, do Ministério do Desenvolvimento Regional – responsável por uma licitação bilionária com sobrepreço de R$ 130 milhões, como revelou o Estadão. Davidson Tolentino, antecessor de Tiago no Dlog, era diretor da Área de Revitalização das Bacias Hidrográficas da Codevasf até 1.º de setembro. Ambos são apadrinhados de líderes do Progressistas.

Estão entre os alvos Wellington Ferreira Gonçalves e William Ferreira Gonçalves, sócios da Global. As ordens foram expedidas pela 10.ª Vara da Justiça Federal no Distrito Federal. A polícia também fez buscas em endereços ligados à BSF Gestão e à Precisa Medicamentos.

A PF já identificou indícios de favorecimento à Global para ofertar as medicações por força de decisão judicial. Apesar do pagamento milionário antecipado, a empresa não entregou os remédios. Estima-se que ao menos 14 pessoas morreram por não terem os remédios.

A Global é presidida por Francisco Maximiano. A empresa e Ricardo Barros são réus em ação de improbidade administrativa que tramita na Justiça do DF. Por ordem do então ministro, a pasta liberou o pagamento pelos remédios sem que a empresa tivesse apresentado documentos suficientes à Anvisa para a importação.

Maximiano também é sócio da Precisa Medicamentos, empresa que está no foco da CPI da Covid por suspeitas de fraudes na oferta da vacina indiana Covaxin ao Ministério da Saúde. As suspeitas recaem sobre o Dlog da Saúde.

Defesa. Em nota, o deputado Ricardo Barros ressaltou que não é alvo da operação e que não foi identificada qualquer irregularidade em sua gestão no ministério. As defesas dos demais citados não foram localizadas.