Título: Guerrilha enfraquecida, Uribe forte
Autor: Clara Cavour
Fonte: Jornal do Brasil, 18/09/2005, Internacional, p. A15

Nem as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) nem o governo são os mesmos que se enfrentaram na conturbada posse de Alvaro Uribe, em 7 de agosto de 2002. O estrondo das bombas que explodiram em Bogotá naquele dia já quase não ecoa, segundo analistas. Em contrapartida, o presidente, antes intolerante às exigências da guerrilha marxista para uma negociação de paz, oferece agora amplas condições de diálogo de olho na reeleição.

- A bola mudou de campo - afirma Eduardo Pizarro, diretor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade Nacional da Colômbia, em entrevista ao JB.

O governo quer trocar rebeldes presos - ao todo 500 - por 59 seqüestrados em poder das Farc, entre eles a ex-candidata à presidência, Ingrid Betancourt, em cativeiro desde 2002.

Três propostas já foram feitas para um encontro, nenhuma ainda aceita pela guerrilha. O governo de Uribe, por meio do alto-comissário para a paz, Luis Carlos Restrepo, já sugeriu uma igreja, uma embaixada e um vilarejo como sede. A reunião contaria com a participação de organismos internacionais e as operações militares seriam suspensas por alguns dias.

A intenção é estender o processo de paz aos esquerdistas, já que com os paramilitares de direita das Autodefesas Unidas da Colômbia as conversas avançam. Cerca de 10 mil combatentes já entregaram as armas e espera-se que outros 15 mil façam o mesmo até o fim do ano.

A Lei de Justiça e Paz, aprovada em julho, estabelece penas mais brandas aos membros desmobilizados de qualquer grupo envolvido na guerra civil colombiana, que já dura 41 anos.

O privilégio em princípio seria dedicado somente aos paramilitares, mas depois que 38 homens das Farc abandonaram as armas na semana passada, Uribe aproveitou a oportunidade para esquivar-se de críticas e mostrar que a lei pode ser ampla. O presidente também concedeu liberdade por três meses a Francisco Galán, um dos líderes do Exército de Libertação Nacional (ELN), também de esquerda. Com a aposta, falha anteriormente, pretende que o rebelde estabeleça uma negociação.

Tantas concessões remontam a uma conjuntura que, para Pizarro, é favorável ao governo. A grande popularidade de Uribe - mais de 60% - e o pleito do ano que vem, possivelmente o primeiro a permitir a reeleição, estimulam o presidente a buscar resultados. A aproximação do fim do Plano Colômbia, que acaba em dezembro, também não parece assustar. Washington prometeu manter o investimento - que hoje chega a US$ 600 milhões anuais para o combate ao narcotráfico e ao terrorismo - a seu principal aliado na América Latina.

- As Farc estão debilitadas politicamente, e o Estado, fortalecido. O cenário só pode ser favorável à guerrilha se houver mudança de governo em 2006 - avalia o analista.