Correio Braziliense, n. 21633, 09/06/2022. Política, p. 3
Bolsonaro critica Petrobras
Ingrid Soares
Victor Correia
O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a criticar a política de preços dos combustíveis, adotada pela Petrobras, e os lucros que a estatal obtém. O chefe do Executivo aproveitou para dar uma estocada nos governos petistas e disse que não vai interferir na empresa.
“Lamentavelmente, ainda não temos o entendimento da Petrobras. É uma grande empresa, um orgulho para nós, mas ela tem, de acordo com a Constituição, a sua função social. As grandes petrolíferas baixaram a margem do lucro. Aqui, se faz o contrário ainda. Vamos tentar mudar isso daí”, sustentou. “Não vamos interferir na Petrobras como o PT interferiu, lá atrás, no preço dos combustíveis. Não vamos interferir no preço da energia elétrica, como a Dilma (Rousseff, ex-presidente) interferiu lá atrás, e a conta veio salgada para a gente pagar depois. Temos um governo que considero técnico.”
As declarações ocorreram no evento para empresários, promovido pela Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ).
Bolsonaro falou, também, sobre o projeto aprovado na Câmara, no último dia 6, que fixa teto de 17% para a alíquota de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) incidente nos combustíveis. Ele repetiu que o governo vai zerar PIS-Cofins sobre a gasolina e o etanol. O chefe do Executivo assegurou, ainda, que o governo federal vai ressarcir os estados pela perda de arrecadação.
“Canetada”
Principal adversário de Bolsonaro nas eleições de outubro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou o chefe do Executivo pelo projeto relativo ao ICMS. Na avaliação do petista, o aumento dos preços dos combustíveis foi causado por “uma canetada” e, portanto, pode ser resolvido por outra. Ele ainda defendeu ainda a criação de um fundo para estabilização dos preços utilizando os dividendos pagos pela Petrobras à União.
“Parece bonito, parece bom, parece que o governo está preocupado com o povo brasileiro”, comentou Lula, em entrevista à Rádio Itatiaia, de Minas Gerais. “O aumento nos preços foi causado por uma canetada do Pedro Parente, do presidente da Petrobras. Se para aumentar foi uma canetada, para tirar também tem de ser numa canetada. O presidente, se tivesse coragem, já teria feito isso”, completou.
Na avaliação de Lula, o projeto em tramitação no Congresso vai prejudicar a população. “Ao mexer no ICMS, os municípios vão perder dinheiro, a educação vai perder dinheiro, a saúde vai perder dinheiro. O presidente vai jogar o peso da culpa em toda a sociedade brasileira”, disse. “Ele vai fazer a compensação até dezembro. Depois de dezembro, eu quero saber quem vai arcar com a perda de arrecadação.”
De acordo com o ex-presidente, Bolsonaro está jogando a culpa do aumento de preços para os governadores, quando a responsabilidade é do próprio chefe do Executivo federal. Lula ressaltou, ainda, que Bolsonaro “tem o rabo preso” em relação às empresas que atualmente importam gasolina.
“Todos os presidentes da história do país brigaram pela autossuficiência do petróleo no Brasil. O país, hoje, está refinando apenas 80% do combustível que precisamos. É preciso refinar mais, para que a gente seja, efetivamente, autossuficiente”, defendeu. “Essa briga toda de Bolsonaro em relação ao ICMS não vai chegar à bomba da gasolina, do diesel e do gás.”