O Estado de S. Paulo, n. 46728, 24/09/2021. Política, p. A6

CPI apura elo entre Flávio Bolsonaro e diretor da Precisa

Julia Affonso
Daniel Weterman


A CPI da Covid, no Senado, apura a ligação entre o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) e o diretor Institucional da Precisa Medicamentos, Danilo Trento. Os senadores querem saber se o dirigente acompanhou o filho do presidente e uma comitiva do Senado que foi a Las Vegas no ano passado.

Em depoimento aos senadores, ontem, Trento confirmou que esteve na cidade americana uma vez e disse que viajou em voo comercial. Questionado se estava acompanhado de algum senador, sobre a data da viagem e sobre o que fez em Las Vegas, o diretor da Precisa optou por ficar em silêncio.

O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) apresentou registros da viagem de Trento para Las Vegas. Segundo o parlamentar, o diretor saiu de São Paulo em 23 de janeiro do ano passado e retornou ao País quatro dias depois. Girão afirmou que a viagem fez parte de uma caravana de autoridades brasileiras, incluindo o atual ministro do Turismo e ex-presidente da Embratur, Gilson Machado.

Dados do portal do Senado apontam que Flávio Bolsonaro esteve nos Estados Unidos entre 19 e 26 de janeiro do ano passado. Segundo o site, o filho do presidente acompanhou uma comitiva da Embratur em reuniões com o Carnival Group e a Royal Caribbean International, em Miami, e com o presidente e CEO do Las Vegas Sand Corporation, Sheldon Adelson. Foram gastos R$ 12,5 mil em diárias. Segundo o portal, o senador Irajá (PSD-TO) também esteve na delegação e foram gastos R$ 14,4 mil em diárias.

Na avaliação do senador Humberto Costa (PT-PE), a viagem "demonstra, mais do que qualquer coisa, a proximidade entre um determinado senador" e Trento. "A investigação que vai ser feita pode demonstrar que essa viagem se prolongou", disse. "Não é comum um lobista, um dono de uma empresa que tem negócios com o governo, viajar com um senador e, mais ainda, para fazer tratativas que dizem respeito à tentativa de trazer para o Brasil a prática do jogos de azar."

Segundo o Portal da Transparência, entre setembro de 2019 e o mesmo mês do ano seguinte, a Precisa teve um contrato de R$ 41 milhões em vigor com o Ministério da Saúde para fornecimento de preservativos femininos. Em fevereiro deste ano, a empresa intermediou um acordo de R$ 1,6 bilhão com a pasta para fornecer 20 milhões de doses da vacina Covaxin. O contrato foi rescindido após indícios de irregularidades.

Durante a audiência, Trento confirmou conhecer Flávio Bolsonaro de eventos institucionais, mas negou ter relação com o filho do presidente ou com outro integrante da família.

Em nota, Flávio afirmou que "senadores irresponsáveis da CPI distorcem fatos" para atacá-lo. Disse que "nunca se reuniu com Danilo Trento em Las Vegas nem possui vínculo de qualquer espécie com o mesmo".

Depoimento. A sessão para ouvir Danilo Trento durou cerca de 5 horas. O diretor da Precisa não respondeu à maioria das perguntas da CPI, amparado em uma decisão do Supremo Tribunal Federal, que lhe concedeu o direito ao silêncio. A CPI quebrou os sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático do dirigente e de seu irmão Gustavo Trento durante a sessão.

Trento declarou ser diretor da Precisa há cerca de três anos e disse cumprir "atividades institucionais em órgãos institucionais". Ele não explicou à comissão quais são as atividades de sua própria empresa, a Primarcial Holding e Participações. Relatório do Coaf, em posse da CPI, registrou como atípicas transações milionárias entre a 6M Participações, controlada por Francisco Maximiano, dono da Precisa, e a Primarcial.