Título: O número 1 em taxa de juros
Autor: Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 18/09/2005, Economia & Negócios, p. A18
Por que o Brasil, um país que tem a maior economia da América Latina, tem que manter uma taxa de juros tão elevada? O tema está distante de ser uma questão apaziguada entre os economistas.
- O tema ainda é uma esfinge para os analistas - admite o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Eustáquio Reis.
Entre as razões mais lembradas, está o histórico de hiperinflação e indexação da economia brasileira, além de uma dívida de enorme proporção. No ano passado, em esforço histórico e graças ao crescimento da economia, o país viveu pela primeira vez em muitos anos a redução da relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto), um dos principais indicadores de solvência observados por investidores e analistas, e atingiu 51,7% do PIB. Neste ano, porém, estimam analistas, juros em alta farão com que o indicador volte a contar pontos contra o país.
Para o economista Guilherme Loureiro, da Tendências, a estimativa é que essa relação volte para a casa dos 52,8%. Em 2006, a perspectiva, mesmo com juros mais baixos - a estimativa é que a taxa Selic fique, em média, a 16,5% -, é que o endividamento não recue muito, mantendo-se em 52,1% do PIB.
- O mercado parece punir com mais intensidade o Brasil do que outros países. O Japão, por exemplo, tem uma dívida equivalente a 150% do PIB. Isso porque temos que resolver uma questão institucional e fiscal (muitos gastos) que prejudicam a melhora da percepção sobre o país - analisa Loureiro.
Para o economista-chefe da RC Consultores, Marcel Pereira, por conta de um conservadorismo exagerado, o Brasil vem andando em descompasso com os demais países.
- O Brasil sempre esteve na liderança no ranking dos juros, mas a diferença nunca foi tão grande. Enquanto os países em desenvolvimento aproveitaram a liquidez mundial para reduzir a taxa de juros, o Brasil insiste em manter a rigidez, preso a um ciclo de aperto monetário para tentar controlar as expectativas de inflação de curto prazo - avalia.
Eustáquio Reis lembra ainda que o sistema financeiro brasileiro também não ajuda a reduzir os juros.
- O mercado oligopolizado é bom para extrair ganhos elevados, obtidos com a diferença entre a captação e o repasse de recursos - analisa.
No mês passado, um dos maiores especialistas em política monetária, o americano Keneth Rogoff, professor de Havard University, incluiu na conta o histórico de calotes que o Brasil já distribuiu aos investidores estrangeiros. Segundo ele, foram sete reestruturações de passivo desde o século 19. Mas isso não explica toda a a história. México, por exemplo, teve oito e Colômbia, sete. Ambos tem risco país - indicador que mede, a partir da remuneração dos títulos do tesouro americano, a capacidade de um país honrar com suas dívidas - mais baixos do que o Brasil.
- O Brasil tem muito a avançar na área fiscal e institucional. Há problemas jurídicos que ainda precisam ser solucionados. A Lei de Falências ajuda, mas ainda é preciso avançar em termos regulatórios. Além disso, o Brasil precisa gastar menos e melhor - avalia Guilherme Loureiro.