O Globo, n. 32689, 05/02/2023. Mundo, p. 20

EUA abatem balão chinês suspeito de espionagem



O governo dos Estados Unidos mandou derrubar, ontem, um suposto balão de espionagem chinês que sobrevoava o território americano havia pelo menos uma semana. Mais cedo, autoridades do país fecharam três aeroportos nos estados da Carolina do Sul e da Carolina do Norte por motivos de segurança nacional, informou a Administração Federal de Aviação (FAA) em comunicado. A decisão de abater o dispositivo foi tomada horas depois de o presidente Joe Biden dizer que iria “lidar” com a questão.

Desde a última terça-feira, o Pentágono vinha monitorando um suposto “balão de coleta de informações” da China, que passou cinco dias viajando em uma rota diagonal de Idaho até as Carolinas, e enviou caças F-22 para rastrear o objeto. Voos foram temporariamente suspensos na quarta feira no aeroporto de Billings, em Montana. A localização do sobrevoo era delicada, já que o estado abriga a 341ª Ala de Mísseis da Força Aérea e seus mísseis balísticos intercontinentais Minuteman III, com capacidade nuclear.

Mal-estar diplomático

Ontem, a FAA também fechou os aeroportos de Wilmington, Carolina do Norte, e em Myrtle Beach e Charleston, na Carolina do Sul. De acordo com a agência, a decisão foi tomada para “apoiar o Departamento de Defesa em um esforço de segurança nacional”. Em entrevista ontem, Biden disse que já havia pedido ao Departamento de Defesa que abatesse o dispositivo na quarta-feira, mas o Pentágono adiou a medida pelos potenciais riscos à população em terra firme. A aeronave foi derrubada enquanto sobrevoava o Oceânico Atlântico, em uma área considerada segura para a operação, a 18 quilômetros de altitude e 11 quilômetros da costa.

— Ele foi derrubado com sucesso. Quero parabenizar nossos pilotos — disse Biden em Maryland. O premier do Canadá, Justin Trudeau, deu seu “forte apoio” à decisão de Biden de abater o balão. A controvérsia envolvendo o suposto balão de espionagem gerou um mal-estar diplomático entre EUA e China e fez com que o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, decidisse adiar sua visita a Pequim —a primeira ao país asiático de um chefe da diplomacia americana desde 2018 — marcada para acontecer entre hoje e amanhã. O secretário chamou a entrada do balão em espaço aéreo americano de um “ato irresponsável”, além de uma  “clara violação à soberania do s Estados Unidos e do direito internacional” pela China. Pequim tentou diminuir as tensões com Washington na sexta-feira, lamentando a “entrada acidental” da “aeronave civil usada para fins científicos”.

Depois de inicialmente dizer que precisava verificar as alegações sobre o balão, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores responsabilizou os ventos do oeste e a falta de controle do objeto pelo “sério desvio” para os EUA. “[Ele é um] dirigível civil usado para fins científicos, principalmente meteorológicos, que havia desviado muito de seu curso planejado. O lado chinês lamenta a entrada acidental do dirigível no espaço aéreo dos EUA devido à força maior”, disse o porta-voz chinês em comunicado. Até o fechamento desta edição ontem, Pequim não se manifestara sobre a derrubada da aeronave. O balão espião chinês entrou no território dos EUA em 28 de janeiro, no espaço aéreo do Alasca, perto das Ilhas Aleutas, mas não foi julgado uma ameaça a princípio. Segundo oficiais da Defesa americana, a China tem diversos balões espiões orbitando ao redor do mundo a 18 mil metros de altura, e eles ocasionalmente se desviam para os Estados Unidos. Este balão, no entanto, permaneceu navegando pelo território por muito mais tempo do que o comum. Na sexta, o Pentágono anunciou que detectou um segundo balão chinês sobrevoando a América Latina.

‘Não tentem atirar nele’

À medida que o balão sobrevoava o país, muitos moradores dos estados em seu trajeto anunciavam nas redes sociais que iam tentar abatê-lo a tiros. Isso levou o xerife do condado de York, na Carolina do Sul, a fazer um alerta no Twitter: “Não tentem atirar nele!!! Seus tiros de rifle NÃO VÃO atingilo. Sejam responsáveis. O que sobe cai, incluindo as suas munições”. Os americanos foram os primeiros a usar esse tipo de balão de espionagem, na Guerra de Secessão, entre 1861 e 1865. A prática se espalhou durante a Primeira Guerra e foi amplamente utilizada durante a Guerra Fria, quando os EUA lançaram centenas de balões para coletar informações sobre a União Soviética e a China.(Com AFP e New York Times)