Título: Uma festa em clima familiar
Autor: Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 19/08/2005, País, p. A2
Apesar das denúncias generalizadas de irregularidades, em alguns pontos de votação na Zona Norte a eleição do PT lembrou uma reunião de confraternização entre militantes de diferentes tendências que aproveitaram o processo eleitoral para recordar o passado e rever os amigos. Entre exclamações de como os bebês cresceram desde as últimas eleições, os petistas votaram no futuro do partido. ¿ Falta o Berzoini para esse bebê ficar mais bonito ¿ diz uma militante na Uerj, no bairro Maracanã, ao colar mais um adesivo na roupa do filho da petista que retrucou dizendo que o filho ¿vai crescer e ver que esse não é o melhor projeto para o país¿.
Parece um clube fechado. A maioria dos eleitores era saudada pelo nome e raros eram os petistas independentes que chegavam ao local de votação sem conhecer ninguém.
¿ Família sempre se reúne quando tem problemas, quando está mal ¿ resumiu Maria Cecília Moreira, ao comentar o comparecimento dos filiados na seção da Uerj.
O petista Luiz Fernando Pereira, filiado desde 1986, carregava uma camiseta da campanha de Lula nas eleições de 1994. Ele também guarda bottons e camisetas da última campanha em que trabalhou. Luiz chorou ao falar no presidente Lula, mas negou frustração em relação ao PT.
¿ Eu não sou petista por simpatia, sou por ideologia. Eu ganho meu salário independente do PT, não estou envolvido em irregularidades ¿ afirmou Luiz Fernando.
Vinícios Ribeiro Vieira foi o eleitor de número 145, festejado porque garantiu, por volta das 15h, o quorum que validaria as votações na seção. Filiado ao partido em 2003, Vinícios disse que ¿odeia o socialismo¿ e questionou a importância do partido no Rio. Ele acha que a sigla fez a política de alianças necessária e considera a corrupção uma prática generalizada:
¿ O erro do PT foi não pagar a quem devia. Só por isso descobriram o mensalão ¿ garantiu.
A votação seguiu calma e os militantes de diferentes tendências, depois de votar, se reuniram em pequenos grupos para discutir o futuro do partido. As provocações eram em tom de brincadeira. André Aleixo afirmou que eu voto foi contra a ala majoritária, apesar de sempre ter seguido a tendência.
¿ Pela primeira vez na minha vida votei contra o Campo Majoritário, mas isso não quer dizer que concorde com a esquerda ¿ afirmou André Aleixo.
A crença no futuro do partido é generalizada. Apontando para o escudo do Botafogo no peito, o militante sindical José Maria Veras compara o partido com um time de futebol.
¿ Não vou deixar o partido por causa de uma crise. Quem deixa o partido por causa da crise não é petista de verdade. Ser oposição é uma beleza, difícil é ser governo ¿ criticou.
O advogado Lander de Oliveira, que ajudou a coordenar as eleições em Senador Camará, é outro que conhecia quase todos os eleitores:
¿ Fazemos reunião toda semana. O importante é o PT continuar trabalhando com o movimento de base, porque a decisão é do coletivo ¿ concluiu o advogado.