Título: Carona é arma poderosa para conquistar votos
Autor: Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 19/08/2005, País, p. A2

A transformação do antes intelectualizado Partido dos Trabalhadores em uma organização de massas mostrou ontem sua face negativa. A eleição interna que escolhe as nova direção foi pautada, no Rio, pelo transporte coletivo de eleitores, sobretudo na Zona Oeste da cidade.

Em Senador Camará, o fluxo de militantes na casa onde ocorria a votação era determinado pela chegada de três kombis que se revezavam na busca dos eleitores. No local 1.086 militantes estavam registrados para votar e a esperança dos coordenadores era que 700 deles comparecessem.

- Eles pagam a condução para nos trazer e nos levar de volta para casa - conta Diva Corrêa, militante do PT há mais de 10 anos.

Arnaldo Firmino da Silva, de 52 anos, optou se filiar ao PT há 5 anos, depois de passar pelo PTB e pelo PMDB.

- Eles vão na casa da gente e pedem para nos filiarmos. Durante as reuniões, pedem os votos - explica Arnaldo.

Há seis anos, desde que a zonal - como são chamados os núcleos de cada região - foi criado, o partido procura filiar grande quantidade de eleitores na região. Paulo Moreira, um dos coordenadores, tenta mostrar o outro lado da utilização do transporte em massa. Segundo ele, a utilização de kombis é uma necessidade nas regiões carentes.

- É uma comunidade muito carente e violenta. É muito difícil manter um espaço de discussão política como esse nesta região. A maioria das pessoas que está sendo transportada é de amigos. Não há transporte público - critica.

Em Bangu, onde se esperava que cerca de 500 pessoas votassem, o movimento de kombis não é tão intenso. Mas um coordenador local, que não quis se identificar, confirma que ele existe:

- O uso de kombis é inevitável nessas regiões mais pobres - afirma, ressaltando que a cena se repete por toda a Zona Oeste.

O vereador Edson Santos, em visita à 21ª Zonal, em Jacarepaguá, disse que considera normal a utilização de transporte coletivo de eleitores.

- Esse transporte é natural, até mesmo para dar maior acesso às pessoas. Elas não estão vindo pelo transporte, mas para votar no partido. O PT virou um partido de massas, então é natural que nas áreas populares isso aconteça. No Horto e em Laranjeiras, as pessoas não precisam disso - alfineta.

Na Zona Sul, a movimentação foi pequena. Em Ipanema, por exemplo, apenas 125 pessoas votaram.

Ao contrário do que se comentou nos últimos dias, a movimentação de militantes não era feita em função da eleição nacional do PT. De maneira geral, as zonas que disponibilizaram transporte brigavam pela eleição estadual e municipal. Nem mesmo a teoria de que o uso de transporte de massa era usado apenas pelo Campo Majoritário é verdadeira. As zonais de Senador Camará e Bangu, por exemplo, eram controladas por dirigentes que apoiavam a candidata nacional do Movimento PT, Maria do Rosário.