Título: Denúncias marcam eleições do PT
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 19/09/2005, País, p. A3

Com a inédita mas estratégica ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Partido dos Trabalhadores (PT) foi ontem às urnas para escolher seus novos dirigentes na disputa interna mais acirrada em 25 anos de história, sob críticas de uso da máquina partidária com o propósito de favorecer o Campo Majoritário, tendência que detém a hegemonia na sigla desde 1995. As principais acusações envolveram o transporte irregular de eleitores aos locais de votação nas zonas sul e norte de São Paulo, e o pagamento de mensalidades para que os filiados assegurassem o direito de votar, prática denunciada no Amapá e em Pernambuco.

Apesar das incertezas quanto à duração da apuração, a previsão é de que o resultado final da eleição seja conhecido amanhã. Tudo indica, porém, que haverá segundo turno no pleito que assumiu natureza plebiscitária, por colocar em campos diametralmente opostos seis candidatos de oposição e o da situação, encarnado na figura do secretário-geral, Ricardo Berzoini. Hoje, na sede do diretório nacional do partido, no centro de São Paulo, devem ser divulgadas as primeiras parciais.

A apuração acontece desde às 17h de ontem nos próprios locais de votação. Mas a contagem em lugares mais distantes, especialmente na região Norte do país, pode sofrer atraso deviso à lentidão na transmissão de informações.

O presidente Lula preferiu não participar do Processo de Eleições Diretas (PED) do PT, cumprindo à risca a estratégia palaciana de tentar manter o governo afastado da crise petista. Ao se abster de votar, depois de conversar com assessores, o presidente Lula frustrou centenas de militantes que o aguardavam com faixas, cartazes e bandeiras do partido, no diretório municipal do PT de São Bernardo do Campo.

De acordo com o deputado Ivan Valente (PT-SP), da corrente Ação Popular Socialista (APS), haveria indícios de pagamentos em massa, na última semana, de mensalidades em atraso no estado do Amapá. Para ter condições de votar, o filiado precisa estar em dia com as mensalidades do partido, e há denúncias de que débitos em atraso estariam sendo quitados excepcionalmente nos próprios locais de votação, como forma de garantir votos.

- O que ocorre é o chamado voto de boiada. Isso é abuso de poder econômico e não condiz com as práticas do partido - afirmou ontem Valente, lançando suspeitas sobre a lisura do Processo de Eleições Diretas (PED) do PT.

Flagrada patrocinando o transporte de eleitores, a deputada estadual Ana do Carmo banalizou a prática, e acusou a esquerda do partido de lançar mão da mesma prática:

- Temos que acabar com essa falsa moralidade. Por que a esquerda também não assume que está trazendo ? - questionou.

Do Carmo disponibilizou uma van para que eleitores pudessem votar no diretório municipal do partido de São Bernardo do Campo. Também reconheceu ter regularizado o cadastro de 48 militantes, pagando R$ 5 por cada um.

Até as 20h de ontem não havia sido divulgado o número de eleitores, dos 825.461 filiados do partido em condições de votar. Mas a expectativa da coordenação nacional do PED era que mais de 250 mil petistas tivessem comparecido às urnas para eleger seus novos dirigentes nacionais, estaduais e municipais.