Título: O crucial voto dos turcos
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Fonte: Jornal do Brasil, 19/09/2005, Internacional, p. A7
Como nos anos anteriores, o eleitorado de imigrantes turcos na Alemanha seguiu a tendência de votar pela coalizão Partido Social Democrata (SPD)-Verdes e escolher o chanceler Gerhard Schröder, favorável à entrada da Turquia na União Européia, em vez da candidata Angela Merkel, da União Democrata-Cristã (CDU), contrária à presença dos turcos no bloco.
Essa é uma questão sensível. Schröder apóia a entrada da Turquia, mas para Angela, o país - que liga a Europa à Ásia - deveria ter privilégios, não um assento no bloco.
Por sua vez, o programa de governo da conservadora, que planeja reavivar a economia alemã, tem apelo junto aos turcos. Mas a hostilidade da CDU aos imigrantes, não. Muitos eleitores escolheram entre o menos pior:
- Não concordo com tudo que Schröder faz, mas não há outra alternativa. Os conservadores nunca mostraram interesse em nós, turcos - disse o editor de livros Suat Kaygan, um alemão descendente de turcos, naturalizado há 12 anos. - Os cristãos-democratas nos tratam como os judeus. Procuram um bode expiatório para os problemas, e nos escolheram. Acho que nos tratariam ainda pior se não fosse crime - continua, lembrando o passado nazista da Alemanha.
Com o apertado resultado prévio do pleito, qualquer voto faz diferença, inclusive a fração de 0,5% do eleitorado que os imigrantes da Turquia representam. E apesar da tendência de escolher o SPD-Verdes, muitos alemães turcos estão irritados com o alto índice de desemprego (11%) e as reformas na Previdência Social, levadas a cabo por Schröder.
O desempregado Mehmet Demirhan, de 39 anos, é um exemplo. Votou pelo recém-formado Partido de Esquerda (LP), uma fusão de dissidentes do SPD e de ex-comunistas da antiga Alemanha Oriental.
- Os social-democratas nos prometeram muito, mas não cumpriram - afirmou, depois de depositar seu voto em uma urna do bairro de Kreuzberg, em Berlim, onde há uma grande comunidade turca.
No entanto, Ahmet Iyidirli, candidato do SPD de origem turca, defende que, devido à vulnerabilidade dos muçulmanos dentro da Alemanha, é importante que os imigrantes preservem os benefícios sociais de Schröder.
- Entregar tudo para o mercado, como quer Merkel, seria ir na direção errada. Os grupos sociais mais fracos se tornariam os perdedores e não queremos isso - disse.