Título: Eleição sem vencedor claro
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Fonte: Jornal do Brasil, 19/09/2005, Internacional, p. A7

Os eleitores parecem ter levado a Alemanha ao limbo político ontem, dividindo seus votos entre Angela Merkel e Gerhard Schröder. Números parciais da Comissão Eleitoral apontam que os democratas cristãos da CDU/CSU, liderados por Angela, ficaram com 35,2% dos votos, conquistando três assentos a mais no Parlamento do que o Partido Social Democrata (SPD), de Schröder, que obteve 34,3%.

Dessa forma, a CDU/CSU deve dispor de 225 vagas no Bundestag e o SPD, de 222; o Partido Liberal (FDP), de 61; o Partido de Esquerda (comunista), de 54 e os Verdes, de 51. Com esta divisão de cadeiras, nem a coalizão entre a CDU e o FDP, nem a dos SPD-Verdes obtem maioria absoluta. O número total de deputados para conseguir vitória clara é de 307, do total de 613 da Câmara. Por isso, o resultado mais provável da eleição parece ser a formação da chamada ''grande coalizão'' entre os rivais CDU/CSU e SPD.

- Somos o partido mais forte e temos a responsabilidade de formar o próximo governo - afirmou a provável futura chanceler, sem esconder a decepção pelo resultado prévio. Esperava-se que a aliança CDU-CSU conquistasse pelo menos 41% dos votos.

Bem mais contente por ter superado os prognósticos pessimistas, Schröder se recusou a admitir ter perdido o cargo, enquanto não sair o resultado de Dresden. A morte de uma candidata a congressista adiou a realização do pleito na cidade para 2 de outubro.

- Sinto que tenho um mandato para assegurar que nos próximos quatro anos haverá um governo estável sob minha liderança - discursou, afastando a possibilidade da ''grande coalizão''. - Não haverá nenhum acordo sob a liderança de Angela com os meus social-democratas.

Enquanto ''Angie'' garantir a liderança sobre o SPD, o único caminho para Schröder continuar na chancelaria seria uma coalizão com os Verdes e o liberal FDP. No entanto, o líder do FDP, Guido Westerwelle, também descartou esta aliança, da mesma forma que fizeram os líderes do Partido Verde nas últimas semanas.

Outra opção seria nova eleição, se depois de semanas de negociações sobre coalizões nenhum dos principais partidos formar a maioria do governo. Isso nunca aconteceu na Alemanha do pós-guerra.

Em um país onde o voto não é obrigatório, o índice de participação foi de 77,7% - um pouco menos do que os 79,2% registrados em 2002. E o quase empate entre CDU-CSU e o SPD mostra que o eleitorado está divido. Mas das urnas saiu outra importante observação, apontam analistas: a crescente predileção dos alemães por facções minoritárias em detrimento das grandes. E este fator que força a criação da ''grande coalizão'', se o país quiser manter a governabilidade.

''As projeções apontam perdas para os dois grandes partidos. Enquanto a queda do SPD na preferência do eleitorado já era esperada, os resultados negativos da CDU foram uma surpresa. O mesmo se pode dizer do crescimento do FDP. Nenhuma coalizão previsível disporia de maioria para governar. A novidade nesta eleição foi o surgimento de uma nova força à esquerda da social-democracia. O Partido de Esquerda, erguido rapidamente pelo dissidente do SPD, Oskar Lafontaine, e pelo presidente do PDS, Gregor Gysi, se mostrou como um rival que deve ser levado a sério'', resumiu o jornal Neue Zürcher Zeitung.

O periódico tageszeitung recomenda a Angela e Schröder ''mais cuidado no futuro, tanto com os correligionários quanto com os inimigos''.

''Antes que as negociações em prol de uma coalizão comecem, já há intrigas contra Angela Merkel. É possível que seus dias estejam também contados na presidência da CDU. Glória transitória. A candidata é cercada por sucessores'', alerta o Süddeutsche Zeitung.