O Globo, n. 32691, 07/02/2023. Mundo, p. 16

Busca desesperada



Equipes de resgate buscam desesperadamente sobreviventes sob os escombros de construções destruídas por um devastador terremoto de magnitude 7,8 que atingiu o Sudeste da Turquia e o Norte da Síria ontem de madrugada, deixando ao menos 4.300 mortos e mais de 15 mil feridos em uma região já assolada por guerra, crise de refugiados, problemas econômicos e temperaturas congelantes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou haver o risco de o número de mortos ainda crescer oito vezes.

O tremor aconteceu às 4h17 (22h17 de domingo, no horário de Brasília) a uma profundidade de 17,9km, segundo o Serviço Geológico dos EUA (USGS). O epicentro foi localizado no distrito de Pazarcik, no Sudeste da Turquia, a cerca de 60km da fronteira com a Síria, deixando ao menos cerca de 3 mil mortos e mais de 13 mil feridos no país, segundo a última contagem de ontem à noite. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, declarou sete dias de luto nacional.

Também sentido em Chipre, Egito, Israel, Líbano e até na Groenlândia, este é o terremoto com o maior número de vítimas na Turquia desde o de 17 de agosto de 1999, que matou 17 mil. Com magnitude de 7,8, foi o mais forte terremoto a atingir o país desde 1939. Dezenas de abalos secundários, incluindo um de magnitude 7,5 às 13h24 (7h24 em Brasília), atingiram a região.

20 mil socorristas em ação

Na vizinha Síria, o terremoto provocou ao menos 1.300 mortes e 2.460 feridos, sendo 593 vítimas fatais e 1.403 feridos nas províncias sob controle do governo em Aleppo, Hama, Latakia e Tartus, segundo balanços provisórios do Ministério da Saúde sírio citados pela agência oficial de notícias Sana. Outros 700 mortos e 1.057 feridos foram registrados pelos Capacetes Brancos, a Defesa Civil síria, em áreas controladas pela oposição.

A Turquia também abriga 3,6 milhões de refugiados sírios, de acordo a agência de refugiados da ONU. É muito provável que o número de mortos e feridos continue aumentando rapidamente, levando-se em conta que, só na Turquia, pelo menos 5.606 construções desabaram antes ou depois do terremoto.

O Crescente Vermelho Turco iniciou uma campanha nacional de doação de sangue para a região atingida. De acordo com o chefe da Agência de Gerenciamento de Desastre e Emergência da Turquia, Yunus Sezer, há quase 20 mil socorristas na região. Algumas imagens na TV turca e nas redes sociais mostram pessoas assustadas, de pijama, vagando pela neve, enquanto observam equipes de resgate vasculhando os escombros de suas casas.

— Ouvimos vozes aqui e ali. Achamos que talvez 200 pessoas estejam entre os escombros —disse um resgatista em Diyarbakir, segundo uma transmissão da NTV.

As equipes de resgate vasculham os destroços em cidades e vilas também na Síria em busca de soterrados. O chefe do Centro Nacional de Monitoramento Sísmico da Síria,

Raed Ahmed, disse à rádio oficial que este foi, “historicamente, o maior terremoto já registrado”. Em pânico, muitos moradores saíram às ruas apesar da chuva torrencial. Os Capacetes Brancos disseram que a situação é “catastrófica” e pediram às organizações humanitárias internacionais para “intervir rapidamente” para ajudar a população local.

“Centenas continuam sob os escombros”, disse o Capacetes Brancos no Twitter.

O presidente turco lembrou que a força do tremor de ontem equivaleu ao que atingiu o país em 1939, quando estimadas 33 mil pessoas morreram na província oriental de Erzincan. Ele pediu união nacional diante da tragédia.

“Esperamos sair juntos desta catástrofe, o mais rápido possível e com o menor dano possível”, tuitou Erdogan, cuja forma de lidar com essa tragédia pesará muito nas disputadas eleições de 14 de maio.

A maioria das pessoas dormia quando o terremoto aconteceu de madrugada.

— Minha irmã e seus três filhos estão sob os escombros. Também seu marido, seu sogro e sua sogra. Sete membros da nossa família estão sob os escombros — disse à AFP Muhittin Orakci, ao testemunhar as operações de resgate em frente a um prédio em ruínas em Diyarbakir.

A região afetada fica perto Gaziantep, cidade turca de aproximadamente dois milhões de habitantes onde os edifícios residenciais são feitos principalmente de tijolo e concreto frágil, extremamente vulneráveis a terremotos, de acordo com o USGS. O aeroporto de Gaziantep está permitindo apenas o pouso de aviões com ajuda de emergência. A cidade abriga muitos dos milhões de refugiados sírios na Turquia.

Mais cedo, o ministro do Interior, Suleyman Soylu, anunciou alerta de nível 4, que inclui pedido de ajuda internacional. Segundo Erdogan, 45 países ofereceram ajuda nos esforços de busca e resgate.

Ajuda internacional

O presidente dos EUA, Joe Biden, tuitou que estava “profundamente triste” com a perda de vidas e a devastação na Síria e na Turquia” e que ordenou que se fornecesse “toda e qualquer assistência necessária”. Já a União Europeia disse que equipes foram mobilizadas em dez países do bloco para a Turquia e a Síria. A ajuda de outros países europeus e da Otan (aliança militar do Ocidente) inclui missões de busca e salvamento, profissionais de saúde, bombeiros, helicópteros, drones e outros profissionais de gestão de crises, além de ajuda humanitária.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ofereceu “fornecer a ajuda necessária”, e o país já enviou duas aeronaves e equipes de resgate. O Brasil também disse estar providenciando assistência humanitária para enviar. A ajuda vem ainda de países como Azerbaijão, Índia, Vaticano e Venezuela, além de agências da ONU.