Título: Irã pode ser enquadrado na ONU
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Fonte: Jornal do Brasil, 19/09/2005, internacional, p. A8

As três principais potências da União Européia (UE) começaram a desenhar uma resolução para forçar que a agência nuclear da ONU reporte o Irã ao Conselho de Segurança da organização, com a oposição russa e o temor de países em desenvolvimento.

No sábado, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, discursou na Assembléia Geral da ONU, afirmando que Teerã está determinada a continuar a produzir combustível nuclear e denunciou um ''apartheid nuclear'' pelos países ocidentais. Estados Unidos e UE temem que o Irã fabrique armas atômicas em segredo.

Desapontados com a linha-dura do presidente iraniano, França, Grã-Bretanha e Alemanha pediram à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que submeta o Irã ao Conselho de Segurança da ONU para encarar possíveis sanções.

Hoje, o grupo de 35 diretores da agência inicia uma reunião crucial e que tomará o resto da semana. Líderes políticos dos três países da UE e dos EUA se encontraram em Nova York para coordenar táticas e influenciar o lobby nos corredores das Nações Unidas. Mas todos concordam que a decisão não está formada.

- Provavelmente temos uma maioria. Mas a questão é saber ela será suficiente se alguns países relevantes votarem contra ou se absterem - disse um diplomata da União Européia.

Um funcionário do governo dos EUA contou que Washington trabalha para um referendo.

- Consideramos uma maioria simples ao consenso.

Diplomatas afirmam que o caso do Irã dividiu a agência em dois grupos - países desenvolvidos, como os EUA, União Européia, Japão e Austrália, contra nações emergentes e influentes, como Índia, China, Brasil, África do Sul e Rússia.

Dos 14 integrantes da agência que fazem parte do Movimento Não-Alinhado, somente Cingapura e Peru afirmaram apoiar um referendo na ONU. Diplomatas da UE dizem que o movimento estuda a abstenção conjunta, o que evitaria a fúria dos EUA contra países como Índia, Paquistão e África do Sul.

A pressão internacional ao Irã cresceu desde que o país quebrou os lacres da ONU e reiniciou os trabalhos na fábrica de conversão de urânio em Isfahan, no mês passado. As operações estavam suspensas desde novembro, depois de um acordo com três nações da União Européia.

O Ocidente diz que o Irã perdeu o direito de investir na tecnologia de combustível nuclear, que pode ser usado em bombas, ao esconder o enriquecimento de urânio por 18 anos.

Mas países emergentes compartilham a visão iraniana de que as nações ricas querem impedir as pobres de terem seus programas atômicos.

Joseph Cirincione, especialista nuclear da Carnegie Endowment for International Peace, diz que Ahmadinejad jogou certo no discurso na ONU.

- Não há um lado definido para muitas nações nessa questão e por isso vemos tanta hesitação para levar o Irã ao Conselho de Segurança.

O país ainda não reiniciou o programa de enriquecimento de urânio em Natanz. Mas sugeriu que o fará se for reportado ao conselho.

- Não recomeçamos o processo, mas tudo depende do resultado da reunião da agência - afirmou o porta-voz do Ministério do Exterior iraniano, Hamid Reza Asefi.

Ahmadinejad não só rejeitou os pedidos do Ocidente, mas convidou outros países e empresas a se juntarem ao país no programa de enriquecimento de urânio.

- Esse foi um discurso decepcionante - disse o Secretário do Exterior britânico, Jack Straw.

O Ministro da Defesa francês, Michele Alliot-Marie, afirmou que ''o que acontece no Irã é preocupante''.

- A questão não é impedir que o país tenha um programa nuclear pacífico, mas de termos outra nação com poder de fabricar armas atômicas.

Na chegada a Teerã, Ahmadinejad disse que sua viagem foi um sucesso:

- Acho que abrimos o caminho para um novo desfecho pela agência.

O negociador nuclear do Irã, Ali Larijani, completou, dizendo que ''não podemos negociar e sermos ameaçados ao mesmo tempo''.