O Estado de S. Paulo, n. 46732, 28/09/2021. Política, p. A8

Tasso desiste de prévias e apoia Leite

Eliane Cantanhêde


O senador Tasso Jereissati (CE) anuncia hoje que abre mão de disputar as prévias que vão definir o candidato do PSDB à Presidência da República em 2022, em favor do governador gaúcho, Eduardo Leite. O anúncio está previsto para as 15h, no Congresso Nacional, com a presença de Leite, e servirá de "termômetro" do posicionamento das bancadas tucanas no Senado e na Câmara.

Com a desistência de Tasso, Leite terá como principal adversário o governador de São Paulo, João Doria. Além dos governadores, o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgilio também se coloca como candidato, mas, assim como Tasso, não tem investido na campanha.

"Quem achava que seria um passeio para Doria, errou feio", afirmou o senador Cássio Cunha Lima (PB).

Tasso e Leite vinham discutindo a possível aliança desde agosto, como mostrou o Estadão. Naquele mês, eles jantaram juntos em Brasília e conversaram sobre a ideia de apresentar somente uma candidatura única, em vez de ambos se colocarem como opção da legenda.

Quatro dias depois, Tasso falou, em entrevista ao Estadão, sobre a possibilidade de formar uma frente única para enfrentar Doria nas prévias tucanas, que estão marcadas para o dia 21 de novembro.

A possibilidade de Tasso desistir da disputa causou uma saia-justa entre os tucanos. No mês passado, Doria afirmou em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, que o senador havia abandonado a disputa interna do partido. A declaração do governador, feita no mesmo dia em que Tasso recebeu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em seu escritório político em Fortaleza, pegou de surpresa a direção executiva da sigla e foi prontamente desmentida pelo senador cearense.

"Nunca conversei com quem quer que seja, nem tampouco conversei com o governador João Doria, pessoa que respeito, sobre essa questão. Portanto, fiquei surpreso com essa declaração, e no dia em que eu tiver, se tiver de fazer algum anúncio, eu mesmo farei", afirmou o senador na ocasião. Diante da má repercussão dentro do partido, o governador paulista recuou e pediu desculpas.

Formato. As prévias do PSDB começaram oficialmente no dia 20, mas os inscritos ainda não receberam recursos do Fundo Partidário que a sigla reservou para a campanha. Doria e Leite, entretanto, já estão em campanha desde julho, com uma estrutura profissional similar à de uma disputa presidencial.

A executiva nacional tucana estabeleceu teto de R$ 1,5 milhão. A reportagem enviou questionário sobre os gastos nas prévias aos pré-candidatos e ao tesoureiro do PSDB, César Gontijo, mas apenas Arthur Virgílio respondeu. "Não gastei nada até agora nem pretendo gastar com jingle ou redes sociais", afirmou o ex-prefeito, que cobrou transparência dos candidatos.

O processo de prévias neste formato é inédito no Brasil. O único precedente de disputa interna ocorreu em 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva venceu Eduardo Suplicy no PT – mas não envolveu uso de recursos públicos. A disputa tucana é regida por uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral de 2008, que determina que o postulante não pode receber doações de pessoas físicas ou jurídicas, mas o partido pode utilizar o Fundo Partidário para os gastos com propaganda intrapartidária.