O Globo, n. 32693, 09/02/2023. Brasil, p. 9

Sem suprimentos

Eduardo Gonçalves


Enquanto não começa a operação conjunta da Polícia Federal e das Forças Armadas para retirar garimpeiros da Terra Indígena Yanomami, agentes do Ibama iniciaram nesta semana uma ação para destruir equipamentos usados pelos invasores no território, que está em emergência sanitária decretada pelo Ministério da Saúde.

Agentes do órgão ambiental destruíram na terça-feira um helicóptero, um avião, um trator de esteira e estruturas de apoio logístico ao garimpo. Também foram apreendidos três embarcações, duas armas de fogo e 5 mil litros de combustível usados no maquinário de extração de metais.

Como parte da operação de asfixia logística, o Ibama e a Força Nacional instalaram uma base de controle no rio Uraricoera para impedir o fluxo de insumos aos campos de garimpo.

Voadeiras interceptadas

As voadeiras (embarcações de alta velocidade) que foram interceptadas transportavam uma tonelada de alimentos, freezers, geradores de energia elétrica e antenas de internet. O Ibama informou que esses equipamentos de telecomunicações serão aproveitados para manter a base de controle montada na margem do rio.

A base tem a função de impedir o acesso de embarcações munidas de combustível e equipamentos na reserva indígena. Outras devem ser montadas dentro do território, com o auxílio de agentes da Funai.

Do ar, o Grupo Especializado de Fiscalização do Ibama passou os últimos dias sobrevoando pistas de pouso clandestinas e rastreando equipamentos a serem destruídos. Assim foram achados o avião e o helicóptero incendiados na operação. Segundo o instituto, o trator inutilizado servia para a abertura de caminhos pela floresta fechada.

A operação foi iniciada pelo Ibama e pela Funai, com o auxílio da Força Nacional de Segurança, na segunda-feira. A operação conjunta da Polícia Federal e das Forças Armadas começa amanhã.

O procedimento padrão adotado pelos agentes do Ibama é que aviões e helicópteros encontrados devem ser destruídos. Boa parte desses aparelhos empregados pelo garimpo ilegal tem a estrutura modificada e não possui registro na Agência Nacional de Aviação Civil. Não é considerado seguro retirá-los do local.

Até agora, não foram efetuadas prisões nas ações do instituto ambiental. Os garimpeiros flagrados estão sendo fichados. As informações sobre os invasores são encaminhadas à Polícia Federal, que está encarregada de investigar quem são os donos e financiadores das áreas de exploração ilegal.

Enquanto esses três órgãos trabalham na operação de asfixia logística, o efetivo da Polícia Federal e das Forças Armadas deve fazer uma varredura atrás dos garimpeiros a partir de amanhã. Os agentes têm como base a sede do 4º Pelotão Especial de Fronteira do Surucucu, próximo à terra indígena.

Sem prisões

Segundo agentes da PF, há uma dificuldade logística em prender os milhares de garimpeiros que invadiram a terra ianomâmi, mesmo com flagrantes de atividade ilegal. O acesso aos campos de garimpo é difícil. Só se chega aos locais por meio de helicóptero e lanchas.

Os garimpeiros fichados, no entanto, podem responder pelos crimes de organização criminosa e usurpação de matéria-prima pertencente à União.

Prisões podem ocorrer em situações específicas. Por exemplo, se algum garimpeiro entrar em confronto com um agente, se um fugitivo da Justiça for localizado ou se algum alvo estiver portando arma de fogo e mercúrio. Os garimpeiros, no entanto, costumam se livrar desses materiais antes de serem localizados.

Reforços

Transportados por um avião da FAB, 100 policiais da Força Nacional de Segurança desembarcaram na noite de terça-feira em Boa Vista. Os agentes devem inicialmente atuar na proteção das bases da Funai e na segurança dos 68 polos de atendimento médico dentro do território indígena.

A base dos policiais na capital de Roraima será um alojamento no parque de Exposições Dandãezinho, do governo do estado, na zona rural de Boa Vista.

A chegada dos agentes precedeu a dos ministros da Defesa, José Múcio, dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, e dos comandantes da Forças Armadas em Boa Vista. A comitiva visitou a base da Operação Acolhida, que recebe imigrantes venezuelanos, e a Casa de Saúde Indígena Yanomami. Múcio e Almeida devem visitar hoje a base do governo em Surucuru, antes de voltar a Brasília.

Um relatório do Ministério da Saúde apontou estruturas de atendimento em condições precárias e falta de profissionais nos serviços sanitários na Terra Indígena Yanomami. A conclusão foi baseada em informações levantadas entre 15 e 25 de janeiro pela Secretaria Especial de Saúde Indígena.

— Vamos realizar as melhorias, para além do orçamento que a Sesai já tem. Há uma decisão da Presidência da República, do Ministério da Saúde, de conseguir uma dotação orçamentária específica —afirmou o titular da Sesai, Ricardo Weibe Tapeba, em Boa Vista.