Título: Polícia prende 16 em briga de gangues
Autor: Leandro Bisa
Fonte: Jornal do Brasil, 05/11/2004, Brasília, p. D3

Jovens da Asa Norte se preparavam para uma batalha campal, quando foram cercados pela polícia e levados à DCA

Brincos de argola, cabelos desgrenhados, tatuagem no braço e piercings na língua e no supercílio. Esses eram os apetrechos vistos entre os 16 jovens encaminhados ontem à tarde à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), todos acusados de participar de uma briga entre gangues ocorrida na 710 Norte, por volta das 14h30. A idade dos adolescentes varia entre 13 e 17 anos. Apenas um tinha 18 anos. A polícia recebeu um chamado informando que uma turma de jovens estaria brigando naquela quadra. Três policiais militares seguiram para o local, mas usando um carro comum e sem uniformes. Esses militares não podem ser identificados porque integram o serviço de inteligência da PM.

Eles contaram que encostaram o carro no estacionamento do bloco K da 710, onde estava o grupo detido.

- Percebemos que estavam comentando sobre uma briga, demonstrando golpes que haviam dado e falando do que tinham feito aos inimigos - disse o policial Craveiro (nome de guerra), acrescentando que os jovens tinham nas mãos bastões de ferro e madeira.

Os policiais pediram então reforço. Depois viram um outro grupo de jovens se aproximar do bloco K. Tudo indicava que a briga recomeçaria.

- Eles começaram a se xingar e fazer ameaças, um grupo ainda longe do outro - contou o policial militar Euler.

O reforço chegou antes que o confronto começasse. Cinco viaturas cercaram a quadra. Os jovens que chegavam ao local e viram os carros da polícia de longe e fugiram. Mas a maioria dos que estavam no bloco K acabou apreendida.

Os PMs disseram que, mesmo cercados, os jovens ainda tentaram correr. Três entraram no Gol KBY 9638-PA, mas foram interceptados na saída da quadra. Quem dirigia o carro, onde foi encontrado um papelote de maconha, era um adolescente de 17 anos.

Outros foram detidos na W3 Norte, numa parada de ônibus. Porém, segundo Euler, cerca de dez conseguiram escapar. Na delegacia, foi descoberto que dois adolescentes moram em Sobradinho e os demais na Asa Norte, nas quadras 107, 112, 216, 702, 708 e 710. Um deles é filho de uma policial civil.

Os depoimentos dos jovens eram confusos. Todos se diziam inocentes, afirmando que estavam apenas conversando ou caminhando na rua. Mas um dos rapazes contou ao Jornal do Brasil que o conflito tinha razão numa briga ocorrida no último sábado.

Ele narrou que jovens de duas gangues aliadas - Grafiteiros Jovens de Elite (GJE) e Galera da Doze (GD) - tentaram penetrar numa festa realizada na cobertura de seu prédio, na SQN 107, mas foram expulsos.

- Eles ficaram em baixo do bloco esperando a gente sair. Era sair da portaria, chovia pau e pedra em cima - disse.

O delegado-chefe da DCA, Reginaldo Borges, disse que a confusão de ontem não tem a ver com duas grandes brigas ocorridas nos últimos dias.

- Vamos investigar, mas eu acredito que não tem nada a ver - afirmou.

Todos, inclusive o de 18 anos, foram liberados. O delegado de plantão na DCA, Waldeci Camelo, explicou que não houve infração.

Sobre a maconha, os policiais não conseguiram descobrir a quem pertencia A mãe do jovem de menoridade que dirigia sem carteira assinou um termo de responsabilidade e ele também foi liberado. O carro foi apreendido pela polícia e multado.