Título: Remédio amargo e tóxico
Autor: Liliana Lavoratti
Fonte: Jornal do Brasil, 19/09/2005, Economia & Negócios, p. A17
Ao contrário do que o Banco Central apregoa, os juros altos reprimem mais a oferta do que o consumo e, com isso, causam inflação em vez de contribuir de forma eficaz para o controle de preços. Além disso, a taxa básica (Selic) elevada faz com que mais da metade dos tributos arrecadados anualmente pela Receita Federal seja consumida pelos gastos com juros da dívida pública, hoje o maior problema orçamentário do governo federal.
As conclusões são do consultor em finanças públicas Amir Khair, ao avaliar os resultados da política monetária oficialmente voltada para controle do processo inflacionário nos últimos seis anos. Tal política se baseia no chamado sistema de metas de inflação, em que os juros são mecanismo para fazer a trajetória da inflação convergir para a meta anual estipulada. Pelos seus cálculos, a Selic contribuiu para gerar pressões inflacionárias, pois o custo do dinheiro para as empresas cresceu mais do que para as pessoas físicas.
- Política monetária ou inflacionária? - pergunta Khair. Seu trabalho contraria a política econômica que tem prevalecido desde o governo Fernando Henrique Cardoso, baseada no pressuposto de que juros altos desestimulam o consumo, contribuindo, assim, para conter a inflação.
- De cinco anos para cá, porém, é possível verificar que a política monetária praticada afetou muito mais a oferta do que a procura - enfatiza Khair. Em seu entender, a Selic alta causa inflação ao desestimular o investimento produtivo, pois, explica ele, aplicações financeiras remuneradas de acordo com a taxa de juros, sem riscos e com liquidez imediata são capazes de atrair mais o empresário do que o investimento na produção ou prestação de serviços, com risco maior e prazo de retorno mais longo. Sem expansão da produção, a oferta não acompanha a demanda, provocando alta de preços, ressalta o consultor, engenheiro formado pelo Instituto Técnico da Aeronáutica (ITA) e ex-secretário de Finanças da Prefeitura de São Paulo entre 1988 e 1992.