Valor econômico, v. 20, n. 4890, 29/11/2019. Brasil, p. A7

Secex revisa dado da balança e causa surpresa

Gabriel Caprioli
Marta Watanabe


A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia revisou nesta quinta-feira (28/11) os dados da exportação em novembro, até a quarta semana. Com a revisão, a exportação do período passou de US$ 9,6 bilhões para US$ 13,498 bilhões. As importações não foram revistas. Como resultado, o déficit de US$ 1,099 bilhão nas quatro semanas se transformou em superávit de US$ 2,717 bilhões. A magnitude da revisão surpreendeu e a falta de explicações mais detalhadas deu origem a críticas de especialistas em comércio exterior.

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior (AEB), ilustra o impacto da revisão. “As minhas projeções de superávit comercial para o ano chegavam ao máximo de US$ 34 bilhões. Depois da revisão, a estimativa sobe para US$ 42 bilhões”, diz ele. Castro lembra que o resultado maior da balança comercial tem impacto também nas estimativas de balança de pagamentos.

 De acordo com Castro, uma revisão desse tamanho no lado das exportações é inédita. “O que se espera é que essa revisão possa ficar mais clara quando os dados da balança do mês de novembro forem divulgados na próxima semana.” A expectativa, segundo ele, é entender em quais produtos os valores de embarques foram revisados.

Com a revisão, a média por dia útil exportada passou de US$ 645 milhões para US$ 899,9 milhões em novembro, até a quarta semana. A média diária em novembro de 2018 foi de US$ 1,05 bilhão. Castro lembra, porém, que o ano passado representa base alta de comparação, já que as exportações para a China cresceram como resultado do conflito do país asiático com os Estados Unidos. “Havia em novembro do ano passado exportação atípica mais forte de minério e soja”, diz ele, lembrando que novembro é período de entressafra do grão. Em novembro de 2017, a média por dia útil foi de US$ 834,2 milhões em exportações.

 

 Os dados anteriores de balança até a quarta semana de novembro foram divulgados na segunda e revisados por meio de nota da Secex nesta quinta. Segundo a secretaria, foram constatadas “inconsistências” nos números de exportação registrados anteriormente. A própria secretaria destacou que os valores dos embarques foram alterados “significativamente”. Com a revisão, a balança passou a acumular superávit de US$ 37,638 bilhões até a quarta semana de novembro.

 

Evento não usual - Na nota, a secretaria diz que a magnitude da alteração foi ocasionada por “um evento não usual”, sem detalhar que evento foi esse. Procurada, a Secex não deu informações adicionais. A secretaria também ressalta que os dados semanais da balança são preliminares e passam por revisão natural no decorrer do mês. “Neste sentido, foram detectadas inconsistências relacionadas à transmissão e à recepção dos dados para processamento das estatísticas de comércio exterior. As equipes responsáveis estão mobilizadas para apurar se as inconsistências identificadas também impactaram os dados divulgados para o mês de outubro”, informou a Secex.

Flavio Serrano, economista-chefe do banco Haitong, diz que a revisão apaga a impressão de que o déficit comercial estava se deteriorando muito rapidamente na passagem de outubro para novembro, o que lançava certa apreensão sobre os próximos números da conta-corrente.

Os números anteriores indicavam a possibilidade de um déficit na balança comercial no mês de novembro. O último saldo negativo mensal da balança é de fevereiro de 2015, quando registrou-se déficit de US$ 2,85 bilhões. Especificamente para o mês de novembro, o último resultado negativo foi em 2014, com déficit de US$ 2,43 bilhões.

A revisão dos números da Secex gerou críticas de gestores. Segundo eles, os números piores que o antecipado podem ter pesado em boa parte na disparada mais recente do dólar.

Fontes que conhecem o sistema de dados de comércio exterior explicam que a Secex tem dados diários dos registros de exportação e que a soma dos valores pode ser feita de forma automática. Um erro humano poderia ter causado a inconsistência apontada pela Secex. Poderia ter ocorrido erro em alguma parametrização de cálculo, por exemplo. “Seria um evento raro, mas que poderia acontecer”, diz a fonte. A magnitude do valor chama a atenção, declara, e por isso suscita necessidade de maiores detalhamentos pelo governo.