Valor Econômico, v.
20, n. 4890, 29/11/2019. Política, p. A14
“Sinto que não haverá
candidatos em alguns municípios”, diz Bolsonaro
Murillo Camarotto
Rafael Bitencourt
Matheus Schuch
O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que as dificuldades da administração
pública resultarão na escassez de candidatos a prefeito nas eleições do ano que
vem. Bolsonaro discursou durante a abertura do 3º Fórum Nacional de Controle,
organizado pelo tribunal de Contas da União (TCU). O objetivo do evento é
promover o compartilhamento de experiências entre as instituições de
fiscalização e controle nas esferas federal, estadual e municipal. “Ando pelo
Brasil e sinto que não haverá candidatos em alguns municípios, a não ser
aqueles que não tenham as melhores intenções”, disse.
O presidente deu a
entender que as dificuldades da administração são muito complexas e acabam
afastando as pessoas da gestão pública. “Muitos colegas, por desconhecimento,
se veem enrolados com a Justiça”, disse Bolsonaro, referindo-se a gestores que
acabam caindo nas fiscalizações dos órgãos de controle.
“Temos que encarar as
pessoas como pessoas de bem. Eu mesmo tenho dificuldades seríssimas na
administração, até porque minha formação é outra”, afirmou o presidente, que
seguiu carreira militar antes de ingressar na política. “Todos os dias são
dezenas de novas normas, novas recomendações. É praticamente impossível a gente
tomar pé de tudo e poder governar dessa maneira”, acrescentou.
O presidente disse
ainda que nas viagens que tem feito ao exterior percebe muito interesse de
investidores no Brasil, mas lembrou que a falta de segurança jurídica ainda é
um entrave. Ele elogiou a decisão do TCU que, na quarta-feira, aprovou a
renovação do contrato da concessionária de ferrovias Malha Paulista. “Foi uma
decisão maravilhosa. Estamos recuperando nosso modal rodoviário",
destacou.
Ontem, o presidente
voltou a receber na residência oficial os advogados Admar
Gonzaga e Karina Kufa, responsáveis pelo processo de
registro do novo partido do presidente, o Aliança pelo Brasil. Bolsonaro tenta
viabilizar a criação da nova legenda até abril, a tempo de que seus futuros
correligionários possam disputar as eleições municipais já pelo novo partido.
No entanto, Bolsonaro e seus aliados devem enfrentar dificuldades na validação
das assinaturas pela Justiça Eleitoral.
Ele também telefonou
para o presidente eleito do Uruguai, Luis Lacalle Pou, e o parabenizou pela
vitória. A confirmação oficial do resultado ocorreu somente hoje.
Bolsonaro já havia
dito no início da semana que pretendia comparecer à posse de Lacalle, político ligado à direita. Em transmissão ao vivo
nas redes sociais, o presidente comentou que telefonara para o líder uruguaio e
confirmou sua presença na cerimônia. Já na Argentina, onde foi eleito o
esquerdista Alberto Fernández, Bolsonaro não prestigiará a posse.
Pela manhã, ao sair do
Palácio da Alvorada, o presidente disse que “não conhece” pessoalmente o novo
presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Nascimento de Camargo. À
frente do órgão responsável pela promoção da cultura afro-brasileira, Camargo
defende o fortalecimento de um movimento negro conservador. (Colaborou Fabio Murakawa)