Título: Irmãos de Celso Daniel acusam Greenhalgh
Autor: Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 20/09/2005, País, p. A7
Os irmãos do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, e o médico legista que fez a necrópsia do corpo dele, voltaram a acusar ontem o deputado federal do PT Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) de tentar abafar a investigação do assassinato de Celso, ocorrido em janeiro de 2002. Os irmãos do ex-prefeito, João Francisco Daniel e Bruno Daniel, enfatizaram que pouco antes de deporem na polícia, o deputado federal os chamou para uma reunião na qual pediu que eles ''tomassem cuidado'' com o que iriam dizer na delegacia de homicídios e disse que eles estavam correndo risco de vida.
- Ele tentou abafar o caso desde o início. Desde o dia do velório nos disse que nosso irmão não havia sido torturado. Quatro dias depois fomos à casa dele, e voltou a negar a tortura. Disse, no início do caso, que rasgaria o diploma e renunciaria ao mandato se tivesse sido crime político - afirmou João Francisco em entrevista ao Programa do Jô, da Rede Globo.
O médico legista Carlos Printes, responsável pelo laudo, disse que assim que começou a fazer a autópsia, o necrotério foi ''invadido'' por políticos, inclusive pelo deputado Greenhalgh, indicado pelo PT para acompanhar o caso como advogado. Segundo ele havia forte pressão do PT para que ele não falasse sobre o caso e isso teria levado o IML a proibi-lo de se pronunciar do laudo:
- Percebia pressão de parlamentares para que o caso fosse esclarecido como crime comum e para que autópsia, que atestava a tortura, fosse negada.
O inquérito para apurar o crime foi encerrado ainda em 2002 e considerou o crime comum. O resultado revoltou os familiares. João Francisco diz ter desconfiado desde o início de que fosse um crime político. O irmão do ex-prefeito contou que em viagem à Itália, em outubro de 2001, Celso teria comentado sobre a existência de corrupção na prefeitura de Santo André. O prefeito teria dito que estava preparando um dossiê sobre a participação do então secretário de Negócios Municipais, Klinger de Oliveira, e dos empresários Ronan Maria Pinto e Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, em um esquema de desvios de verbas.
Segundo João Francisco, Celso Daniel sabia dos desvios de verbas, mas acreditava que estavam sendo destinadas ao PT. O ex-prefeito teria começado a preparar o dossiê depois que descobriu que os três estavam retirando grande parte do dinheiro para u próprio.
- O que causou a morte foi ele ter descoberto que a maior parte do dinheiro ia para o bolso das pessoas e não para o partido. Celso e o grupo dele acreditavam que a única forma de chegar ao poder era conseguindo verbas e isto era feito por meio de desvios nas prefeituras. Achava esse processo normal, não aceitava é que eles levassem para o próprio bolso - denunciou João Francisco.
José Eduardo Greenhalgh foi procurado pelo Jornal do Brasil, na noite de ontem, enquanto o programa estava sendo gravado, e afirmou que só daria declarações depois de assistir ao Programa do Jô, que foi ao ar na madrugada de hoje.