Título: Truculência britânica em Basra
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 20/09/2005, Internacioanal, p. A9
Pelo menos quatro civis foram mortos e 150 prisioneiros fugiram depois que tropas britânicas invadiram a principal cadeia de Basra, no Sul do Iraque. O cerco foi feito para resgatar dois militares detidos por atirar na polícia local e abriu uma crise diplomática: enquanto as autoridades iraquianas garantem que a intenção foi, mesmo, destruir a cadeia, as britânicas dizem que uma parede foi derrubada por acidente. A ação também levou uma multidão enfurecida a atacar os tanques britânicos com pedras e coquetéis molotov.
- Uma força de mais de 10 tanques, com o apoio de helicópteros, atacou a prisão. Foi um ato de agressão bárbaro, selvagem e irresponsável. - disse o governador de Basra, Mohammed al-Waili.
- Não ouvimos nada que sugerisse que invadimos uma prisão. Sabemos que houve negociações. - informou um porta-voz do Ministério da Defesa britânico, em Londres,
Os soldados foram presos quando policiais iraquianos tentaram revistar o carro civil que dirigiam. Vestiam roupas árabes e estariam em missão secreta, por isso não usavam uniforme. Ainda conforme o relato das autoridades iraquianas, os dois se recusaram a dizer o que, exatamente, faziam na região. Pareceram suspeitos porque tinham explosivos e armas.
- Um policial se aproximou e, então, um desses caras atirou nele. A polícia, depois, conseguiu capturá-los. Afirmaram ser soldados britânicos e sugeriram que perguntássemos aos comandantes deles sobre a missão - contou Mohammed al-Abadi, funcionário do governo de Basra.
Horas depois, foi divulgada a foto dos dois, sentados no chão, com as mãos amarradas por trás das costas e curativos na cabeça. Um deles tinha manchas de sangue na calça. As autoridades britânicas confirmam que, de fato, atiraram contra os policiais e agora estão sob custódia dos próprios companheiros.
O ataque teve seu momento mais dramático quando dois dos tanques foram cercados e incendiados pelos coquetéis molotov lançados pela multidão. O fogo atingiu pelo menos um dos soldados, que conseguiu fugir com o corpo em chamas. Outros dois militares se feriram , mas, segundo informações do exército britânico, nenhum deles corre risco de vida. Antes, testemunhas contam que a tropa chegou a dar tiros de advertência para o alto.
O Sul do Iraque, que é dominado pelos xiitas, é considerado uma das regiões menos turbulentas do país, ao contrário do Norte, de maioria sunita, grupo do ex-ditador Saddam Hussein. Mas o clima tem ficado tenso nos últimos dias, especialmente depois de domingo, quando as tropas britânicas prenderam um importante líder da milícia xiita Exército de Mehdi, suspeito de comandar ataques aos ingleses.
Também em Basra foi encontrado ontem o corpo do jornalista iraquiano Fakher Haidar al-Tamimi, seqüestrado durante a madrugada. Foi morto com um tiro na cabeça depois de ter sido levado de casa por oito homens armados e mascarados, por volta da 1h, na frente da esposa. Al Tamimi trabalhava para vários veículos de comunicação do Ocidente, entre eles, o The New York Times. Em agosto, outro jornalista, Steven Vincent, foi seqüestrado e morto em Basra. Também escrevia para o jornal americano, onde publicou recentemente que as tropas britânicas não conseguem controlar as milícias xiitas na região. O Reino Unido tem 8.500 soldados no Sul do Iraque.