Título: Portão de ferro, cadeado de madeira
Autor: Duilo Victor
Fonte: Jornal do Brasil, 20/09/2005, Rio, p. A13

Comemorada com fogos de artifício como a maior ação contra o tráfico de drogas no estado, a Operação Caravelas, da Polícia Federal, terminou em fiasco. O trabalho que desbaratou uma quadrilha de envio de drogas para a Europa, prendeu nove pessoas - entre eles integrantes da alta sociedade carioca - e apreendeu 1,6 tonelada de cocaína tropeçou na fragilidade da segurança na sede da PF no Rio, de onde foram levados, durante o fim de semana, cerca de R$ 2 milhões em notas de euro, dólar e real. O dinheiro havia sido apreendido quinta-feira no apartamento do chefe do esquema, o português Antônio Damaso, na Barra. O furto resultou no afastamento de 59 policiais da superintendência da PF do estado, entre eles toda a equipe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF, inclusive os três delegados e os 22 policiais que estavam de plantão no domingo.

O dinheiro estava em uma sala-cofre da superintendência da PF, na Praça Máua. Só por volta das 8h de ontem o desaparecimento do dinheiro foi descoberto. Uma escrivã que iniciava seu expediente se deu conta de que duas portas de alvenaria e o armário que guardava as chaves do cofre nas sala do cartório da DRE haviam sido arrombadas. De acordo com o delegado regional executivo da Polícia Federal do Rio, Roberto Prel, o furto ocorreu entre a primeira hora de domingo, quando um delegado de plantão terminou de registrar o último flagrante do fim de semana, e a manhã de ontem. A porta de vidro da entrada principal da delegacia estava aberta na hora do crime. Um inquérito policial, que terá auxílio da PF em Brasília, e uma sindicância interna foram abertas. As instalações da DRE passaram por perícia pela manhã e à tarde.

Além do dinheiro furtado, a sala-cofre, reforçada por uma grade de ferro, guardava materiais de outras apreensões, que estavam intocados, segundo a polícia. O local não tem sistema de monitoramento com câmera. A chave foi encontrada ontem de manhã no chão do corredor do mesmo andar onde ficam a sala e a DRE.

Os 1.600 quilos de cocaína, embutidos em peças de bucho de boi congeladas - encontrados na quinta em um frigorífico no Mercado São Sebastião - não foram levados. A droga estava em outro cofre. Segundo a PF, o procedimento para incineração da droga está em andamento.

- Nunca havia ocorrido fato semelhante no Rio. Certamente houve descuido do escrivão na guarda das chaves. Não vou descartar a hipótese de conivência de policiais federais no crime - afirmou Prel.

Ele explicou também que a responsabilidade pelas chaves do cofre é do chefe do cartório, assim como a segurança da superintendência fica a cargo dos delegados de plantão. Foram afastados, além dos três delegados, três escrivães e 31 agentes da DRE, outros dois delegados, dois escrivães e 18 agentes do plantão. Fotocópias das notas serão usadas para rastrear o dinheiro em instituições bancárias.

- Claro que houve gente da casa (Polícia Federal) conivente. O roubo não trouxe prejuízo para as investigações, mas estava contando em usar 40% do dinheiro apreendido para equipar a polícia, por meio do Fundo Nacional Anti-Drogas - contou o chefe de Inteligência Policial da Coordenação-Geral de Repressão a Entorpecentes da PF, Ronaldo Magalhães, o primeiro a ser informado do sumiço e notificá-lo ao coordenador-geral de Polícia de Repressão a Entorpecentes, Ronaldo Urbano, e ao diretor-geral da PF, Paulo Lacerda.