Título: Estrangeiros com apetite
Autor: Silmara Cossolino
Fonte: Jornal do Brasil, 20/09/2005, Economia & Negócios, p. A17

O apetite do investidor estrangeiro pelos mercados emergentes e a alta liquidez internacional garantiram o sucesso da primeira emissão de títulos da dívida externa em reais, realizada ontem pelo governo brasileiro. A operação resultou em uma captação de R$ 3,4 bilhões, ou US$ 1,5 bilhão - o triplo do previsto inicialmente. O prazo para quitação é 2016 e, até lá, os investidores receberão remuneração de 12,75% ao ano.

A taxa que o governo se propôs a pagar é 50% superior à aceita pelos investidores na última emissão externa do Tesouro, em 6 de setembro, quando pagou 8,52% ao ano na colocação de US$ 1 bilhão, em dólares. Mas, para José Antônio Gragnani, secretário-adjunto do Tesouro, as condições obtidas pelo governo na emissão ficaram ''dentro do esperado''.

- O resultado mostra que o investidor estrangeiro está vendo as qualidades do país. Vê que é interessante investir no Brasil - comemorou.

Com a emissão em reais, o governo se livra do risco cambial. Mesmo que o dólar dispare, o valor do empréstimo não será alterado. O risco assumido pelo governo e pelos investidores na operação é, justamente, o comportamento dos juros no Brasil. Se permanecerem elevados nos próximos 11 anos, o ganho será do governo, que terá conseguido um empréstimo a um custo mais baixo que a média. Caso contrário, os investidores ganham mais.

Os recursos integrarão as reservas do país na próxima segunda-feira e serão utilizados para o pagamento de dívidas. A operação foi intermediada pelos bancos americanos Goldman Sachs e JP Morgan, com o auxílio do Itaú.

Gragnani diz que o lançamento do Tesouro poderá estimular o setor privado a fazer novas captações. Isso porque, a partir de agora, as operações privadas poderão usar o lançamento do governo como parâmetro, o que pode facilitar, por exemplo, negociações de prazo e taxas dos financiamentos.

O plano do governo era captar US$ 9 bilhões entre 2006 e 2007 para refinanciar seus compromissos externos, mas, diante das condições favoráveis do mercado, começou a emitir títulos já neste ano. A primeira emissão do cronograma de 2006 foi a que pagou 8,52% ao ano.

A confiança do investidor estrangeiro em relação ao país também pôde ser confirmada pela evolução do risco Brasil. Ontem, o indicador atingiu 364 pontos, o menor patamar desde outubro de 1997.

Com agências