Título: Juro eleva dívida em R$ 5 bi
Autor: Silmara Cossolino
Fonte: Jornal do Brasil, 20/09/2005, Economia & Negócios, p. A17

A manutenção dos juros em patamar elevado - 19,75% ao mês - provocou uma elevação de R$ 5,1 bilhões na dívida pública mobiliária entre julho e agosto, aumentando o passivo para R$ 920,79 bilhões. A política monetária conduzida pelo Banco Central foi a grande responsável pelo crescimento de R$ 110 bilhões do estoque da dívida em apenas oito meses, informou ontem a Secretaria do Tesouro Nacional.

A dívida só não cresceu mais por conta da crise política. Para evitar impacto da volatilidade, o Tesouro ofereceu menos títulos em leilões ao mercado. Os resgates superaram as emissões em R$ 7,8 bilhões, o que não acontecia há alguns meses.

Nas contas do Tesouro, a redução da Selic de 19,75% para 19,5% ao ano, promovida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada, pode gerar economia anual de R$ 1,3 bilhão no pagamento da dívida pública.

Mas não há como voltar atrás nos estragos já feitos pela manutenção da Selic em um patamar ainda extremamente elevado em comparação a outros países emergentes. Pelos cálculos da Tendências Consultoria, a expectativa é que o governo desembolse R$ 149 bilhões até o fim do ano somente com o pagamento de juros. Segundo a GRC Visão, o país economizaria R$ 85 bilhões ao ano se mantivesse a Selic em patamar semelhante a outros emergentes, conforme antecipou o Jornal do Brasil na edição de domingo.

A participação dos títulos públicos pós-fixados, atrelados à variação da taxa básica de juros - as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) - recuou de 57,32% para 55,85% entre julho e agosto. Já a parcela da dívida equivalente aos títulos prefixados - as Letras do Tesouro Nacional (LTNs) - passou de 22,37% em julho para 23,87% em agosto. A dívida atrelada à variação do câmbio recuou de 4,15% para 4,11%.

Para reduzir o impacto dos juros na dívida pública, o Tesouro está tentando aumentar a participação de títulos prefixados em dívida pública com a redução dos títulos corrigidos pela taxa Selic. Assim, o coordenador-geral de operações da Dívida Pública, Paulo Valle, considera que esse foi um mês positivo, já que está próximo da meta para o ano, que é terminar entre 20% e 30% do total da dívida corrigidos por papel prefixado.

Os dados do Tesouro Nacional mostram ainda que o governo está conseguindo alongar a dívida. O prazo médio das emissões passou de 25,1 meses em julho, para 27,9 meses em agosto. Por sua vez, a parcela de títulos públicos com vencimento em até 12 meses - em curto prazo - recuou de 44,2% em julho para 42,7%.

- O mercado, normalizado, ajuda nisso. Estamos prevendo que, ao fim do ano, a dívida de curto prazo caia para 40% - disse Valle.

Para ele, a crise política não deve causar impacto no cronograma de leilões do Tesouro, pois considera que ela hoje não está associada ao mercado financeiro. Ainda que tenha sido verificado um certo nervosismo no mercado nas duas últimas semanas de julho e nas duas primeiras de agosto, Valle afirmou que os leilões de títulos públicos estão dentro da normalidade e com boa demanda.

- Não temos tido problemas em cumprir o planejado do mês. Os leilões de títulos públicos estão dentro da normalidade e com boa demanda. No começo do mês, houve variação por conta do cenário político. Mas, de lá pra cá, voltou à normalidade - afirmou.