Título: Furlan vai à China sem salvaguardas
Autor: Dimalice Nunes
Fonte: Jornal do Brasil, 20/09/2005, Economia & Negócios, p. A19

Diferentemente do esperado pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, e por boa parte do empresariado, a regulamentação das salvaguardas específicas contra a China dificilmente sairá antes da viagem do ministro à China, marcada para o próximo dia 28. A informação foi confirmada pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, que conversou com jornalistas na saída da reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex). Rosseto não acredita, porém, que seja ingenuidade do governo viajar ao país sem esta carta na manga.

- O ministro Furlan viaja mesmo assim. O mais importante é tentar brecar as importações chinesas pela negociação - afirmou.

É justamente esse o objetivo da missão à China, segundo Rosseto. Antes da chegada de Furlan, segue para para o país amanhã uma missão precursora, coordenada pelo secretário de Comércio Exterior do Ministério, Armando Meziat, que tem como objetivo negociar a auto-limitação de produtos chineses que estão prejudicando determinados setores da indústria brasileira. Representantes da indústria paulista, dos setores calçadista, têxtil e de brinquedos, acompanharão a missão.

Um fator que pode contribuir para as negociações é a publicação, que deve sair ainda nesta semana no Diário Oficial da União, do protocolo de adesão da China na Organização Mundial do Comércio (OMC). Com isso, o Brasil reconhece a entrada da China no órgão internacional. Outro tema discutido na reunião foi a proposta feita pelo Ministério da Fazenda de redução da alíquota de importação.

- Da mesma forma que a Fazenda tem sua proposta, todos os ministérios com cadeira na Camex (Câmara de Comércio Exterior) também estão elaborando propostas - disse o secretário-executivo da Camex, Mário Mugnani. A idéia é elaborar o projeto brasileiro para a reunião ministerial da OMC em dezembro, em Hong Kong, onde será discutida a redução das barreiras à entrada dos produtos agrícolas dos países em desenvolvimento nos mercados de nações desenvolvidas.

A proposta da Fazenda reduz de 35% para 10,5% a tarifa máxima para importação de bens industriais consolidada pelo Brasil na OMC e causou chiadeira no setor privado e em áreas do governo. Três pontos ficaram decididos na reunião de ontem: todos os ganhos no setor agrícola terão como condição a análise de abertura em bens industriais; todas as propostas têm que evidenciar para o Brasil a compreensão de que serão necessários esforços da indústria; e as ofertas serão debatidas com o setor privado.