Título: Roriz avisa que não vai tolerar novas invasões de terra no DF
Autor: Adriana Bernardes
Fonte: Jornal do Brasil, 20/09/2005, Brasília, p. D8

O governador Joaquim Roriz (PMDB) avisou ontem que não vai tolerar qualquer ''ação criminosa'' de invasão de terras públicas. Em reunião na residência oficial em Águas Claras, pediu o reforço na fiscalização e abertura de inquérito para apurar o delito de ''formação de quadrilha ou bando''. A recomendação é que os líderes do ''suposto'' Movimento de Sem-Teto, ''inclusive políticos, que de alguma forma influenciam e estimulam as ações ilegais sejam identificados e inquiridos. Um claro recado para o deputado distrital José Edmar (Prona), que há 10 dias faz o cadastro de famílias para ocupar uma área pública em Planaltina (próximo a Buruti III) e assim pressionar o governador Roriz a doar os lotes.

O comunicado divulgado ontem à noite pelo governo adverte que as famílias que invadirem a área poderão ser punidas com detenção de seis meses a três anos, conforme artigo 20 da Lei 4.947/66. A nota foi assinada pelo secretário de Segurança, Athos Costa, pelo comandante-geral da PM, coronel Renato Azevedo, pelo diretor da Polícia Civil, Laerte Bessa, que estiveram reunidos com o governador, na tarde de ontem, por mais de uma hora, com a participação do presidente da Terracap, Maria Júlia, do secretário do Siv-Solo, coronel Maia, do secretário de Coordenação das Administrações Regionais, Vatanábio Brandão e pelo porta-voz, Paulo Fona.

A Polícia Civil investigará se pessoas cadastradas na Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação estão envolvidas. Se for constatada a participação direta ou indireta estarão automaticamente excluídas do programa.

O deputado José Edmar (Prona) não foi localizado ontem à noite para comentar o comunicado divulgado pelo Buriti. À tarde, ele concedeu entrevista sobre o movimento organizado por ele em Planaltina.

Estratégia - O deputado admitiu que não fez qualquer estudo para saber se a área realmente pode ser habitada ou se existe alguma restrição do ponto de vista ambiental e do desenvolvimento sustentável.

A estratégia, segundo ele, é mobilizar, ocupar e depois se certificar sobre questões legais.

- Se não puder haver ocupação naquela área, que o governo arrume outra. Precisamos mostrar o grande défcit habitacional que existe em Planaltina. Porque a gente fala mas o governo não acredita. Com a mobilização ele vê com os próprios olhos - diz.

As inscrições, que começaram há cerca de 10 dias e programadas para se estender até dia 24, já teve a adesão de mais de 10 mil pessoas segundo o deputado.

Invasão - Ele nega que esteja incentivando invasões ou ocupações de terras públicas.

- Sempre deturpam. O que vamos fazer é colocar uma grande lona, onde ficará um certo número de pessoas e onde haverá reuniões e faixas penduradas na parede sempre chamando a atenção para quem passa sobre as reivindicações do grupo - explicou.

A área, onde hoje funciona uma pista de motocross, já é chamada pelo parlamentar de Buriti IV e, segundo ele, dá para assentar 3 a 4 mil famílias.

Ao comentar sobre os riscos do adensamento populacional nas regiões próximas a Brasília, José Edmar argumentou:

- Os nossos filhos vão continuar nascendo, casando e tendo outros filhos. E terão que morar aqui mesmo. A diferença é que o filho do rico vai para apartamento e o do pobre precisa ir para debaixo de lona para conseguir moradia - disse o deputado distrital.

Para ele, questões como o abastecimento de água, não será problema com a construção de Corumbá IV. Além disso na região de Planaltina tem duas barragens a do Piripau e a Fumal.

Critérios - O parlamentar informou que só são cadastradas pessoas com mais de cinco anos em Brasília, que não possuíram imóvel no DF e tenham, ao menos, um filho.

José Edmar construiu sua carreira política com ações parecidas. Ele se orgulha de ter sido o responsável por ocupações que deram origem a Samambaia, Paranoá, Recanto das Emas, Estrutural, Itapuã e Santa Maria.

Ao comentar se não seria este o motivo de ser conhecido como grileiro, José Edmar se defendeu.

- Nunca fui grileiro. Nenhuma dessas famílias jamais me pagou qualquer valor por terem sido beneficiadas. Fui preso com esse nome, mas até hoje o inquérito da Polícia Federal nunca provou nada. As pessoas confundem quem luta por moradia com grileiro - afirmou.