O Globo, n. 32701, 17/02/2023. Política, p. 7

Senadores abrigam bolsonaristas sem mandato

Jussara Soares


Ex-deputados federais aliados de Jair Bolsonaro ganharam cargos em gabinetes de senadores de direita e seguem circulando pelo Congresso, embora não tenham sido reeleitos. Derrotado nas urnas, Coronel Tadeu (PL-SP) foi abrigado pelo senador Marcos Pontes (PL-SP). Já a ex-deputada Liziane Bayer (Republicanos-RS) está trabalhando com o ex-vice-presidente e estreante no Senado Hamilton Mourão (Republicanos-RS), de quem é suplente.

Policial Militar em São Paulo, Coronel Tadeu se elegeu na esteira do bolsonarismo em 2018 com 98.373 votos. Assim como o ex-presidente, migrou do PSL para o PL e não conseguiu renovar o mandato no ano passado — resultado que não o impediu de ficar sem função no Congresso. Ele ganhou o cargo de assistente parlamentar júnior de Marcos Pontes, exministro da Ciência e Tecnologia e recém-eleito para o Senado. A nomeação foi publicada no Diário Oficial da União de terçafeira. Como funcionário, Tadeu recebe R$ 11,4 mil por mês, bem menos dos que os R$ 33,7 mil que ganhava como parlamentar.

Coronel Tadeu ganhou notoriedade em 2019, ao quebrar uma charge do cartunista Latuff que fazia referência ao episódio em que um jovem negro foi morto por um tiro disparado por um policial militar. O quadro “Genocídio da população negra” estava exposto na Câmara. Em 2021, o Conselho de Ética da Casa aprovou por 12 a 5 a imposição de uma censura verbal ao deputado, umas das punições mais leves previstas no regimento interno.

Já Liziane Bayer abriu mão de disputar a reeleição para concorrer como primeira suplente na chapa de Hamilton Mourão ao Senado. Com a vitória do ex-vice-presidente, ela foi convidada para ser a chefe de gabinete do parlamentar de primeira viagem com um salário bruto de R$ 22,9 mil.

A ex-deputada argumenta que sua “trajetória política fala por si.” Na função, ela diz que atuará na coordenação das questões administrativas e políticas do gabinete.

— Minha nomeação não é resultado de uma negociação. Foi um convite do senador — diz Liziane, que também já foi deputada estadual pelo Rio Grande do Sul.

Outro personagem conhecido da tropa bolsonarista também está de volta ao Congresso depois de sofrer um revés nas urnas. Trata-se do ex-líder do governo passado na Câmara, Major Vitor Hugo. Ele, porém, é servidor da Casa e apenas retomou o cargo público a que tem direito.

Vitor Hugo disputou o governo de Goiás e não se elegeu. Aprovado no concurso de 2014, ele é consultor legislativo, posto cuja remuneração pode superar os R$ 30 mil.

— Estudei muito para ser aprovado nesse concurso, que só abre de 12 em 12 anos. Na minha área, costuma ter apenas uma ou duas vagas. Ter sido consultor legislativo antes de ser deputado me ajudou no mandato. E agora a experiência como deputado vai me ajudar no exercício da função de consultor —diz Vitor Hugo.

Sem sucesso nas urnas

Entre os bolsonaristas, cinco ex-ministros saíram derrotados das urnas no ano passado. São eles: Gilson Machado (PL-PE), Flávia Arruda (PL-DF), João Roma (PL-BA) e Henrique Mandetta (MDB-MS), que disputaram o Senado, além de Abraham Weintraub (PMB), que concorreu à Câmara dos Deputados. Mandetta e Weintraub deixaram seus postos rompidos com Bolsonaro.

Dos ex-integrantes do antigo governo, os que tiveram o melhor desempenho foram a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina, eleita senadora com mais de 60% dos votos, e o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que recebeu mais de 200 mil votos para a Câmara e se tornou o segundo mais votado do Estado do Rio.