O Globo, n. 32701, 17/02/2023. Política, p. 8
Sem emplacar aliados no Planalto, Paes responde com críticas ao governo
Jan Niklas
Bernardo Mello
Ainda sem conseguir emplacar integrantes de seu grupo político no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), vem usando as redes sociais para distribuir alfinetadas na administração do PT. Ele já disparou contra a escolha do governo para a direção dos hospitais federais do Rio; fez duras críticas ao secretário do Ministério da Fazenda Bernard Appy; e trocou farpas com o novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.
Após oferecer palanque para Lula no Rio e fazer atos de campanha, Paes participou da costura da aliança nacional entre PSD e PT. Ele ainda abriu seu secretariado para indicações petistas, em um plano que previa também indicar o deputado federal Pedro Paulo (PSD), braço direito do prefeito, para uma vaga na Esplanada dos Ministérios.
Porém, o projeto foi por água abaixo após o nome ser barrado. O veto, segundo interlocutores, partiu da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, em função da acusação antiga de violência doméstica envolvendo Pedro Paulo. O caso já foi arquivado pela Justiça por falta de provas, mas gerou um desgaste persistente em sua imagem política.
Ex-secretário de Fazenda de Paes, Pedro Paulo foi cotado principalmente para o Ministério do Turismo. Além da indicação do prefeito, ele contava com a benção do presidente do PSD, Gilberto Kassab, e o endosso unânime da bancada do partido na Câmara. Porém, nada disso adiantou.
Desde então, Paes acumulou estresses com o Planalto e usou suas redes para lavar roupa suja. A última troca de farpas foi com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. O desentendimento começou após o prefeito ironizar a participação de Prates num evento na sede da companhia no Centro do Rio, que funciona num esquema de trabalho híbrido. Crítico do esvaziamento da região por grandes empresas, Paes cobra a volta ao trabalho presencial para revitalizar a área.
Prates rebateu a ironia e lembrou dos alagamentos na cidade e o entupimento de bueiros na região. O prefeito retrucou e sugeriu uma auditoria, pois os gastos com a sede incluíam drenagem na área. Posteriormente, Paes “printou” o debate e ironizou: “Governo estranho. Até elogio nega”. Porém, horas depois, ele apagou a postagem.
Uma semana antes, o prefeito havia usado as redes sociais para fazer duras críticas ao secretário do Ministério da Fazenda para a Reforma Tributária, Bernard Appy. O motivo foram declarações do economista sobre mudanças no Imposto Sobre Serviços (ISS) arrecadado pelas prefeituras.
“E eu pensando que tinha votado (em Lula) contra o autoritarismo. Nada pode ser pior no mundo do que ‘técnico’ autoritário’”, escreveu Paes.
Ainda no início deste mês, o prefeito também demonstrou insatisfação com a escolha pelo governo de Alexandre Telles, atual presidente do Sindicato dos Médicos do Rio, para comandar a gestão dos hospitais federais no estado. Na rede, ele tentou desqualificar a nomeação de Telles à função.
“Indicação técnica? Qualificado para a missão? Ouvi o presidente @LulaOficial dizendo coisa diferente sobre essa missão”, publicou Paes.
Entre opositores, a crítica foi lida como insatisfação pessoal de Paes com Telles, que é ligado a sindicatos, movimentos sociais e esteve presente em organizações de greves e manifestações de profissionais da saúde contra a prefeitura.
Entre opositores, a crítica foi lida como insatisfação pessoal de Paes com Telles, que é ligado a sindicatos, movimentos sociais e esteve presente em organizações de greves e manifestações de profissionais da saúde contra a prefeitura.
Apesar das estocadas no governo federal, Paes mantém sua proximidade e afinidade com Lula como um importante ativo político. Recentemente, num lançamento de obra da prefeitura que teve a presença do presidente, ele rasgou elogios ao petista e puxou um coro de “Viva Lula!”.
De olho em pavimentar o caminho para reeleição e um quarto mandato em 2024, ele selou uma aliança com o PT na capital e abriu três secretarias ao partido. Seu cálculo político é que ele deve enfrentar um candidato bolsonarista no próximo pleito. Com a estratégia de nacionalizar a eleição no Rio —berço do bolsonarismo —, Paes acomodou em seu governo outras siglas da base de Lula. Nomeou quadros de PSB, PDT e União Brasil para tentar assegurar o apoio das siglas à reeleição. A movimentação de Paes é lida como uma forma de traçar uma linha no chão delimitando até onde vai sua abertura para ceder espaços para o PT. Uma das reivindicações dos petistas é a vaga de vice na chapa de 2024.