Título: Um ameno discurso de renúncia
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 21/09/2005, País, p. A3
O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), será ameno em seu discurso de despedida da Casa, marcado para o fim da tarde de hoje. Sete meses depois de ser eleito, Severino renunciará ao mandato para não ser cassado, acusado de cobrar um ''mensalinho'' do dono do restaurante Fiorella, Sebastião Augusto Buani. De acordo com aliados , o deputado não vai desferir ataques nem ao governo nem à oposição. - Ele não está a fim de polemizar mais - revela o líder do PP, José Janene (PR).
A expectativa é de que Severino, que sobe à tribuna às 18h30 para renunciar ao mandato e escapar da cassação, garantindo seus direitos políticos, faça um discurso voltado para os seus eleitores. Poderá também elogiar o baixo clero, de quem sempre recebeu apoio. José Janene, que conversou com Severino na tarde de ontem, afirmou que o presidente da Câmara está sereno.
- Ele não está a fim de reclamar, nem de ficar discutindo sobre sua sucessão - afirmou o líder do PP.
Severino também estaria tranqüilo quanto a sua defesa jurídica em relação às acusações de cobrança de propina. Só abriu mão de convencer seus pares porque não haveria tempo político para isso. Um pedido de cassação foi protocolado na semana passada pelos partidos de oposição.
A gestão de Severino como presidente da Casa foi efêmera. Eleito no vácuo da desarticulação governista e petista - que entrou na disputa com dois candidatos, os deputados Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e Virgílio Guimarães (PT-MG) - Severino recebeu de presente, em segundo turno, a presidência da Casa.
Há pouco mais de um mês, em entrevista no Rio, Severino chegou a afirmar que se sentia preparado para assumir a presidência da República, diante da iminência de um processo de impeachment contra o presidente Lula. O pedido de impeachment não veio e, trinta dias depois, Severino é que se vê obrigado a renunciar.
A deterioração política de Severino foi ainda mais fulminante do que sua passagem pela presidência. Há quinze dias, surgiu a denúncia de que ele cobraria R$ 10 mil mensais de Sebastião Buani para garantir a concessão do restaurante Fiorella, localizado no 10º andar do Anexo IV da Câmara. Não resistiu às primeiras provas. (P.T.L.)