Título: O inesperado problema do PT
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 21/09/2005, País, p. A3

O deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) chegou à presidência da Câmara como um mau agouro para o governo. Sua eleição, além levar ao poder um político independente em relação ao Planalto - péssima notícia num ano em que o governo tinha uma agenda repleta de reformas pela frente - evidenciou as rachaduras no PT e a inconsistência da base da base de apoio. Em seu programa de rádio, Lula fez questão de afirmar que ''o mundo não acabou'' com a eleição do representante do baixo clero. Mas no Planalto, a análise era de que o governo teria tempos duros pela frente. Severino foi eleito com uma plataforma que prometia a ''valorização do mandato'' - leia-se aumento de salários - e independência da Câmara em relação ao Executivo.

Orgulhoso da função de defensor dos interesses paroquiais, o novo presidente não tardou em cumprir sua promessa de campanha. Ainda era fevereiro quando propôs o aumento dos subsídios dos deputados de R$ 12,8 mil para R$ 21,5 mil. A primeira ação polêmica de Severino turbinou uma das poucas reações coordenadas que o governo teve durante seu curto mandato. A ofensiva contra a proposta, classificada pelo deputado como hipócrita, uniu a base governista, que conseguiu derrubar a medida.