Título: Bagdá decreta estado de emergência
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Fonte: Jornal do Brasil, 08/11/2004, Internacional, p. A7

Morte de 23 policiais ontem motivou medida, que deve vigorar por 60 dias. Exército americano começa a bombardear Faluja

O governo interino declarou, ontem, estado de emergência no Iraque durante 60 dias, para enfrentar a escalada de violência que vem assolando o país nos últimos meses. O anúncio foi motivado pela morte de pelo menos 23 policiais em três ataques rebeldes coordenados no Oeste do Iraque e pela execução de 34 pessoas em atentados com carros-bomba contra distritos policiais na cidade de Samarra, no sábado. Os atentados foram uma clara demonstração de força ante a ofensiva dos EUA contra o levante em Faluja e Ramadi. Ainda ontem, o Exército americano fechou os acessos à cidade de Faluja e iniciou os bombardeios sobre o Sul e o Leste da cidade, informou a rede de televisão Al Jazira. A ofensiva era aguardada desde sexta-feira.

A declaração de estado de emergência foi feita pelo porta-voz oficial do Executivo provisório, Thamer Hassan al Naquib, que assegurou que a medida afetará 18 províncias iraquianas, com exceção das três curdas, Sulaimaniya, Erbil e Dhuk.

Segundo Al Naquib, o premier interino, Iyad Allawi, dará hoje uma entrevista coletiva para explicar pessoalmente os motivos que o levaram a tomar a decisão restritiva.

''O governo iraquiano esgotou os caminhos para integrar todas as partes no processo político. Por isso, decidimos declarar o estado de emergência no Iraque inteiro, com exceção do território curdo'', informou o porta-voz em um comunicado.

Ele acrescentou que a decisão foi tomada de acordo com Protocolo de Segurança Nacional de 2004, que permite que as autoridades iraquianas apliquem a lei de emergência quando julguem necessário.

A lei marcial autoriza as forças de segurança e o governo iraquianos a deterem os suspeitos de constituir uma ameaça à segurança e à estabilidade no país. Além disso, o Exército e a polícia poderão fazer buscas sem aviso prévio em lugares públicos e privados, bem como cercar áreas e cidades conflituosas com o objetivo de restabelecer a segurança.

Esta é a primeira vez que se declara estado de emergência no Iraque desde a queda do deposto presidente iraquiano, Saddam Hussein, em abril do ano passado.

Dentre os ataques de ontem, o mais sangrento ocorreu em Haditha, a 200 km de Bagdá, onde foram usados lançadores de granadas e morteiros, de acordo com a polícia iraquiana.

Depois de 90 minutos de luta, 21 policiais foram levados à estação de bombeamento de petróleo K-3. Ali, foram executados com tiros.

O brigadeiro Shaher al-Jughaifi, chefe da segurança no Oeste do Iraque, morreu em um atentado contra um posto policial em Haqlaniya.

Homens armados mataram outro policial iraquiano e feriram mais um na cidade de Baquba, Nordeste de Bagdá. Um carro-bomba atacou um comboio da ONU na estrada para o aeroporto da capital, e um veículo foi atingido, informaram testemunhas. Um porta-voz militar dos EUA, contudo, não confirmou a notícia.

As tropas dos Estados Unidos e do Iraque vêm se reunindo ao redor de Faluja desde outubro. Durante esse tempo, o Exército americano duplicou o número de homens em Ramadi, cidade-vizinha.

Alguns analistas, porém, duvidam que esta seja a resposta para o conflito.

- O que aconteceu em Samarra demonstra que os rebeldes têm meios para se reunir rapidamente e estabelecer uma rotina de violência - disse Abdeljabbar Ahmed, professor de Ciências Políticas da Universidade de Bagdá. - Quando o governo iraquiano recorre à força, nós não podemos esperar uma solução. O único que nos resta é o diálogo. É vital que todas as partes envolvidas no conflito se sentem ao redor da mesma mesa para resolver as diferenças.